Clint Eastwood, é sem sombra de dúvidas uma lenda do cinema, e no alto dos seus 91 anos de idade, a cada novo projeto, tanto como diretor ou ator, paira no ar a questão: seria este o último filme dele?
Essa pergunta segue sem respostas, mas em Cry Macho: O Caminho Para Redenção, Eastwood faz uma espécie de revisão de sua carreira, marcada principalmente pelos filmes de faroeste, onde ele interpretava o pistoleiro durão de poucas palavras, que geralmente resolve as coisas na base do tiro. Aqui ele tenta mostrar que é possível resolver as coisas de outras maneiras e faz uma mea-culpa no estereótipo do machão que ele próprio ajudou a construir no cinema.
Em seu novo filme, Eastwood interpreta Mike Milo, um ex-astro de rodeio que recebe a tarefa de ir ao México buscar Rafo (Eduardo Minett), filho de seu antigo chefe. No caminho de volta, junto com algumas dificuldades, uma conexão entre o velho cowboy e o jovem rebelde nasce.
O longa é baseado no livro de N. Richard Nash lançado em 1975, e é ambientado nesta mesma época, algo que não é tão bem representado no filme. Se passando bastante na estrada e em pequenas cidades e vilarejos, a fotografia não cria uma identidade muito específica, dando um ar sempre meio genérico a paisagem.
A noção de passagem de tempo também é muito estranha, pois após passar a fronteira e chegar até a cidade mexicana onde vai buscar o menino, Mike parece levar apenas um dia, e a volta, mesmo com os empecilhos criados, levam semanas. E nenhuma das ameaças envolvidas que impedem o progresso da viagem parecem ser realmente desafiadoras. Todo conflito é rapidamente resolvido sem muitas sequelas.
A relação de Mike com Rafo é até bem feita, mas nada que não tenhamos visto diversas vezes em outros lugares. Em relação a interpretação de Clint, apesar de boa, é muito perceptível o peso de idade, a ponto de algumas cenas onde ele precisa montar num cavalo ou socar alguém não fazem sentido. A edição tenta mascarar esses momentos, mas visto que a proposta do filme era justamente mostrar alguém mais vulnerável, porque simplesmente não tirar isto do roteiro, ou justamente mostrar suas dificuldades fazendo coisas que antes eram simples? A presença da personagem Marta (Natalia Traven) da uma leveza muito bem vinda a trama.
Cry Macho é bastante previsível e peca ao não se aprofundar na sua questão principal e na relação dos protagonistas. Também há várias conveniências e a criação do Galo Ex-Machina, que surge em momentos chave para ajudar.
Com boas intenções, mas com falta de substância, o longa é um típico Sessão da Tarde, sem se arriscar muito e entregando algo de fácil apreciação ao público.
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