A Mulher-Hulk nasceu nos quadrinhos da Marvel como tantas outras super-heroínas, sendo apenas uma contraparte feminina de um herói masculino que já fazia sucesso. Neste caso específico, foi por conta do sucesso do seriado de TV O Incrível Hulk, de 1977, e com medo de que o programa de televisão criasse sua própria versão feminina do Gigante Esmeralda, e assim a editora perdesse os direitos de uso, que a Casa das Ideias registrou o nome “She-Hulk“, e em 1980 a primeira revista da personagem foi publicada.
Depois de algum tempo já bem estabelecida, foi graças a fase de John Byrne que heroína teve um ponto de virada, com uma fase aclamada, a personagem esbanjava personalidade, carisma, sensualidade e de quebra ainda quebrava a quarta parede, e embora não fosse exatamente uma novidade, era feita de forma magistral a interação direta com o público.
Quando chegamos agora na série feita para o Disney+, percebemos o quanto tudo disso que foi determinante para sua jornada nos quadrinhos, influenciou o programa. Mulher-Hulk: Defensora de Heróis desde o princípio trabalha a relação de Jennifer Walters (Tatiana Maslany) com seu primo Bruce Banner (Mark Ruffalo), mostrando as diferenças entre os dois e a visão de cada um sobre como é se transformar num monstro verde, mas não apenas isso, como o fato de Jennifer ser mulher, afeta a visão da sociedade sobre ela.
A série é muito perspicaz ao trazer esse ódio gratuito contra uma personagem feminina, pelo simples fato dela ser mulher, para o cerne da trama, pois é só abrir qualquer rede social e pesquisar um pouco que é possível encontrar falas exatamente iguais, essa é a maior meta linguagem que a série poderia ter feito. E tudo isso é feito com um texto afiado, e sem cair no vitimíssimo barato ou perder o bom humor.
O esquema de série procedural, com episódios com trama isoladas, funciona muito bem para o estilo de humor leve e descompromissado que Mulher-Hulk propõem diversas vezes, que nem sempre funciona 100%, mas que estabelece um padrão. Isso permite também várias participações especiais como Wong (Benedict Wong), Emil Blonsky/Abominável (Tim Roth) e a tão aguardada chegada de Matt Murdock/ Demolidor (Charlie Cox), de fato agindo no tribunal, entrando em ação e vestindo seu novo uniforme em sua nova fase Disney. Todas as participações são ótimas e encaixam na trama, sem ofuscar a protagonista, mesmo Demolidor que poderia fácil roubar a cena, consegue complementar o carisma da protagonista, além demostrar uma química absurda entre os dois advogados, que com certeza vai gerar novas parcerias futuras.
Apesar de casos divertidos e inventivos, algumas partes de como eles são conduzidos no tribunal são extremamente superficiais, claro ninguém esperava algo extremamente complexo numa série de comédia, mas coisas básicas como evidências, além da própria palavra dos acusados seria de bom tom, além de não tomar muito tempo para explicações.
O CGI tão falado antes mesmo da série estrear, de fato incomoda em alguns momentos, falta um capricho maior em algumas cenas, mas de maneira geral não é tão ruim assim em momentos chave e não chega a incomodar ou roubar totalmente a atenção.
Toda a forma como a sexualidade de Jennifer é abordada é ótima, de forma natural, como deveria ser sempre e também servindo a trama eventualmente. Esta é a primeira vez dentro do MCU que o tema é abordado de forma tão clara, lembrando que as séries do Demolidor ou Jessica Jones eram produzidas pela Netflix na época, por isso não devem contar.
O final de temporada é extremamente satisfatório, indo ao extremo da quebra da quarta parede de forma hilária e inesperada, principalmente para os fãs que acompanham todas as produções do Marvel Studios. Claro como não poderia deixar de ser, existe algumas pontinhas soltas acenando para o futuro, principalmente de outros personagens, mas o arco de descoberta de como ser Jennifer e Mulher-Hulk ao mesmo tempo, se descobrindo como heroína, advogada e mulher, se encerra muito bem, deixando caminho livre para novas aventuras o futuro.
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