Após 17 anos de sua estreia, Estômago, filme de Marcos Jorge, considerado por muitos um clássico moderno do cinema brasileiro, ganha uma continuação, algo que parece ser uma tendência no Brasil, visto que em breve também teremos O Auto da Compadecida 2, Deus Ainda é Brasileiro, Bruna Surfistinha 2, etc. Mas será que aquilo que fez o filme se destacar e ser lembrado até hoje permanece na sequência?
Com inigualável talento para a culinária, Nonato (João Miguel) conquistou os poderosos na hierarquia da cadeia em que cumpre sua pena. Ele cozinha para o diretor, para o líder dos presidiários – Etecétera (Paulo Miklos) -, e para os carcereiros, com requintes de alta gastronomia. Mas a chegada de um famoso mafioso italiano (Nicola Siri) vai abalar as estruturas e colocará o chef no epicentro de uma feroz disputa de poder.
A mesma estrutura do primeiro filme permanece, vemos o momento atual do presídio intercalados com flashbacks, mas desta vez ao invés da história de Nonato, conhecemos a história de Dom Caroglio, e com isso praticamente metade do filme é falada em italiano, se não for mais. E isso não seria um problema por si próprio, mas toda essa trama de máfia italiana é genérica e tira muito do charme que o primeiro longa tinha.
Muito da trama do presídio se repete, um novo detendo poderoso chega e há uma disputa de poder, e apesar de uma boa sacada aqui e ali, não há exatamente nada de novo, e os personagens secundários não tem carisma nenhum, ou só são atores limitados mesmo.
Nonato fica em segundo plano enquanto acompanhamos a história de Caroglio, que não é ruim, mas é muito arrastada, previsível e definitivamente não era algo que poderia se esperar de um filme brasileiro. O cinema brasileiro é rico demais pra ficar refém de uma trama qualquer de máfia italiana. Toda a construção de personagem, instigante do primeiro filme e o caos que vai se escalando, desaparecem nessa continuação.
É legal acompanhar depois de tanto tempo um personagem marcante como o Nonato, mas parece que tentaram abocanhar mais do que poderiam, e no final o gosto na boca é meio amargo, um exemplo clássico de oportunidade desperdiçada.
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