A terceira temporada de Demolidor, chega com os pés no chão, afim de botar ordem na casa, mas por vez ou outra consegue dar uma voadora, revigorando o personagem.
Esta nova fase da vida de Matthew Murdock (Charlie Cox), traz na bagagem não apenas as duas primeiras temporadas do personagem, com altos e baixos, mas também o seu (desastroso) encontro com outros heróis em Os Defensores (2017). Por conta disto, é necessário botar as cartas na mesa, ajeitar o cenário para o que está por vir.
Então a princípio, quando vemos nos primeiros episódios a reestruturação física e psicológica do Demônio de Hell’s Kitchen, em contraponto a um Wilson Fisk (Vincent D’Onofrio) mexendo suas peças no tabuleiro no jogo de poder, e surpreendentemente um destaque bem grande para o agente do FBI Ray Nadeem (Jay Ali), podemos achar que estamos mais uma vez caindo naquela forma arrastada que a Netflix achou para contar histórias de super-heróis mais sombrias e pesadas, contudo pela primeira vez isso tem uma boa justificativa e é melhor feito que nas vezes anteriores.
Murdock está questionando sua religião, sua bússola moral, questiona seu trabalho como advogado, já que as leias parecem não ter valor para pessoas poderosas como Fisk. Questiona sua presença como vigilante e todo o caminho que o levou até ali, como podemos ver mais a frente, quando descobre algo do seu passado que podia ter mudado toda sua trajetória até ali. Murdock está cansado, quer mais do que nunca por um fim a este jogo de gato e rato com Fisk, e diferente da segunda temporada onde tinha o Justiceiro e Elektra ao seu lado como exemplos de algo que ele não queria se tornar, agora ele está sozinho, ele quer estar sozinho, para liberar o seu demônio interior.
Falando um pouco dos novos personagens: Nadeem por exemplo, não é o simples policial corrupto genérico, nem o policial bonzinho padrão lutando contra o sistema. Ele é uma pessoa, com seus próprios dilemas, que erra e acerta e se vê envolvido em algo muito maior do que ele achava que podia lidar, tudo por conta de sua ambição e desejo de melhorar a vida de sua família. O personagem é muito bem utilizado durante toda a temporada, sempre relevante e nunca ficando chato.
Outra adição ao elenco da série é Benjamin ‘Dex’ Poindexter (Wilson Bethel), outro agente do FBI, que vai sendo trabalhado aos poucos, cada vez mais caindo em sua escuridão interior, digno de se tornar um dos principais antagonistas do Demolidor, o Mercenário.
A presença da Irmã Maggie (Joanne Whalley), freira que cuida de Murdock, também é muito bem vinda, ganhando cada vez mais importância ao longo desta temporada. Karen Page (Deborah Ann Woll) e Foggy Nelson (Elden Henson) parecem muito mais confortáveis em seus personagens, e ganham mais substância, deixando de fato de serem apenas os “amigos do protagonista”. Nos é mostrado suas famílias, dando uma identidade um pouco maior para eles, principalmente Karen Page, que tem até um episódio próprio para nos contar seu passado.
Esta terceira parte da jornada do Demolidor acerta ao ter calma para desenvolver seus personagens, tudo ao seu momento, cada um deles tem seu tempo de tela e relevância até o fim, sem se distrair com tramas paralelas, apenas construindo personagens de maneira coerente. A narrativa se desenvolve muito bem e a maioria dos episódios termina com um cliffhanger, fazendo com que o espectador queira genuinamente continuar a assistir. Isso apesar de básico parece ter sido deixado de lado nas últimas produções do serviço de streaming, já que todos os episódios são disponibilizados de uma só vez, muitas vezes os episódios não são construídos dessa forma, já que o próximo sempre está logo ali a nossa disposição, este clima de suspense pra continuar assistindo se perde, mas aqui vemos o quão beneficente está tática continua sendo para dar fôlego a narrativa. As cenas de luta continuam boas, são disparadas as melhores dentre todas as outras séries do mesmo gênero no catálogo do serviço.
Outro acerto foi se inspirar em A Queda de Murdock, arco clássico dos quadrinhos do personagem, não adaptando fielmente, mas pegando todo aquele clima de desolação em que o personagem se encontra em determinado momento, fazendo ele querer tomar atitudes extremas.
Com todo clima de velório que as séries Marvel na Netflix estão passando, a terceira temporada de Demolidor, chega de volta com o básico, sem surpresas, mas de forma muito competente conta uma boa história, trabalhando muito bem seus personagens e criando alicerces firmes para seguir adiante.
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