PUBLICADO EM 09/09/2024

A Substância

 

A Substância

Escrito e dirigido por Coralie FargeatA Substância chega com os dois pés no peito do expectador para nos lembrar de como o cinema pode incrível, transformador, contestador, desconfortável e nojento, tudo ao mesmo tempo.

Na trama do longa, após ser demitida da TV por ser considerada “velha demais”, Elisabeth Sparkle (Demi Moore) recorre a um sinistro programa de aprimoramento corporal. A substância milagrosa promete rejuvenescê-la, mas resulta em uma transformação ainda mais radical. Ela agora precisa dividir seu corpo com Sue (Margaret Qualley), sua versão jovem e melhorada, e, aos poucos, começa a perder completamente o controle da própria vida. 

O longa é uma grande crítica aos padrões de beleza imposto às mulheres na indústria do entretenimento (e em outros ambientes também) e coloca em xeque o etarismo feminino de uma forma absurdamente impactante. É um exemplar de horror corporal de mais alto nível, como se David Cronnenberg e Darren Aronofsky, tivessem uma filha, basicamente.

Mas o longa não fecha os olhos a ganância do ser humano, de nunca se contentar com algo, sempre querer mais e mais. O processo de rejuvenescimento é explicado em alguns simples passos, que se seguidos a risca, seria possível manter um equilíbrio das duas partes. Mas não só a ganância, como a inveja se manifestam de formas incontroláveis, e nada é bom demais para ser verdade, e tudo vem com um preço a ser pago, e nossa personagem principal descobre isso na pele, literalmente.

Demi Moore é uma atriz veterana, mas não é nenhum absurdo dizer que este é seu melhor trabalho de atuação, com certa folga inclusive. Ela se entrega totalmente, se despindo de qualquer tipo de vaidade, algo que sem dúvida vai marcar sua carreira. E igualmente potente é Qualley, que em determinado momento parece apenas um rostinho bonito, mas que quando é exigida também mostra todo seu potencial, e não por acaso está em ascensão em Hollywood. Dennis Quaid, fecha o trio de personagens principais, e está extremamente caricato como executivo da tv, e é exatamente isso que se esperava do personagem.

    A diretora desde o começo usa super-closes e planos detalhes no rostos dos personagens, o que gera um desconforto, principalmente numas das primeiras cenas em que um dos personagens está comendo camarão de forma quase obscena. Um dos assuntos principais assuntos do filme é a exploração do corpo feminino, e Fargeat não tem medo nenhum de mostrar isso, com muitos planos detalhes em bundas e virilhas, e claro, ocasionalmente nudez total. Mas ela faz isso muito consciente, ainda mais sabendo o que está por vir. O corpo é gatilho de desejo e poder, mas também é motivo de culpa e repulsa.

    Como bom exemplar de terror corporal, existem cenas aflitivas, desconfortáveis e nojentas mesmo. O primeiro sentimental é a repulsa, o “medo” vem após a reflexão de como nossa sociedade se molda por meio de aparências.

    Se paramos para analisar friamente, algumas situações são meio forçadas, mesmo em um filme com temática fantasiosa, mas sinceramente, é possível passar por cima disso. O que realmente me tira um pouco da experiência é uma edição meio brega as vezes utilizada, com inserções na tela com passagens principalmente do personagem de Quaid. Mesmo que ele seja caricato e brega, achei exagerado, assim como alguns momentos em que algumas falas são relembradas em momentos chave. Algumas fazem sentido, mas outras apenas parecem não confiar na capacidade do expectador de fazer associações básicas.

    A Substância é um grande filme, extremamente corajoso e provocador. Fargeat simplesmente olha para o limite e o ignora. Qualquer diretor mais acomodado ou até prepotente, poderia ter encerrado o filme uns 15, 20 minutos antes, mas ela vai até o fim para chocar mesmo, o que torna a experiência deliciosamente asquerosa.

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      4.5

     

    SOBRE O AUTOR

    Vinicius Lunas

    Um rapaz simples de gosto requintado (ou não). Curto de tudo um pouco (cinema, tv, games, hq, música), bom em particularmente nada. Formado em Letras pela Universidade de São Paulo, mas desde os 14 anos formando um bom gosto musical.

     

     


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