Emilia Pérez, é o filme francês que vinha tendo uma rodagem muito boa em festivais, incluindo em Cannes onde faturou alguns prêmios inclusive, e se tornou o representante da França no Oscar 2025, sendo o maior indicado desta edição, com 13 no total. Mas porque existe tanta polêmica em torno do longa?
A trama acompanha um líder do cartel mexicano que decide passar por uma transição de gênero e fugir da polícia. Após a transição, ela adota a identidade de Emilia Pérez e começa uma nova fase de sua vida. No entanto, a transformação traz desafios inesperados, especialmente em relação ao seu passado criminoso e às consequências de suas ações.
Já podemos dizer que qualquer que fosse a abordagem escolhida para o filme, ele causaria algum falatório pelos seus temas, mas temos que acrescentar a equação que o filme é um musical. Ou seja, existem pessoas que já entram predispostas a odiar o longa seja por ele falar sobre mudança de gênero, ou por não gostar da violência que o tema do cartel mexicano aborda, ou por simplesmente não gostar de musicais. A grande questão de Emilia Pérez é que apesar de assuntos interessantes e relevantes e uma escolha ousada em como contar isso, eles o fazem de forma no mínimo equivocada e questionável.
Pra começar que o filme não foi gravado no México, e o próprio diretor Jacques Audiard disse que não fez nenhum tipo de pesquisa específica para idealizar seu filme, suas ideias de como representar o país já estavam em sua cabeça. A única atriz mexicana entre as personagens principais é Adriana Paz, que tem um papel muito pequeno. Karla Sofía Gascón, a protagonista, é espanhola enquanto Zoe Saldaña e Selena Gomez são norte americanas, e a última ainda é bastante criticada pelo seu sotaque fortíssimo, tendo uma carreira toda pautada em sua ascendência latina, mas nunca tendo aprendido o idioma propriamente dito.
A própria comunidade mexicana aponta que tudo é muito estereotipado e que a visão do diretor é muito antiquada sobre o país. Outra tratamento que deveria ter sido melhor feito se refere a comunidade transexual, que também problematiza a forma como a transição de gênero é apresentada. Isso esbarra também na parte musical, pois vários desses momentos de aprofundamento de personagem são mostrados em números de canto e dança, e na verdade a grande maioria deles são ridículos. Há quem defenda que deveriam ser encarados como uma paródia, mas em nenhum momento o próprio filme propõem este tipo de interpretação já existem números que deveriam ser também genuinamente tocantes, mas as letras e a montagem muita vezes acabam com qualquer sentimento positivo que poderia ser gerado.
Na questão das músicas, outra polêmica pode ser apontada, que seria o uso de Inteligência Artificial para que a protagonista conseguisse cantar melhor e alcançar determinadas notas. É importante lembrar que esse fato só foi veiculado bastante tempo depois de toda repercussão do longa, o que aumenta o sentimento de ser enganado ao assistir e achar que a atriz estava performando tão bem.
Falando em atuações, o grande destaque é Zoe Saldaña, que inclusive poderia até se argumentar que é no mínimo co-protagonista do filme, já que a trama se inicia com ela sendo uma advogada desvalorizada mas muito competente e tudo vai se desenrolando através de seu ponto de vista, já que o chefe do cartel vai atrás dela para tratar dos tramites legais e burocráticos para sua transição de gênero que precisa ser feita de forma praticamente secreta.
Apesar de ser ousado e de tratar de assuntos muito relevantes, o faz de forma muito superficial e sem o devido cuidado e respeito. Além disso deixa a desejar em muitos aspectos técnicos e acima de tudo falha como um musical com músicas estapafúrdias ou simplesmente não muito memoráveis.
Mas com tudo isso posto, como o filme conseguiu tanta repercussão positiva em festivais e é apontado como grande favorito do Oscar 2025? A resposta mais plausível é que americanos e europeus fazem filmes para si mesmos, para repercussão em seus festivais e seu próprio lucro, claro. Ao tratar de assuntos delicados é necessário ter cuidado redobrado e muita delicadeza, para não fazer uma obra que pode causar o efeito contrário do que se imaginava.
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