PUBLICADO EM 27/01/2025

Emilia Pérez

 

Emilia Pérez

Emilia Pérez, é o filme francês que vinha tendo uma rodagem muito boa em festivais, incluindo em Cannes onde faturou alguns prêmios inclusive, e se tornou o representante da França no Oscar 2025, sendo o maior indicado desta edição, com 13 no total. Mas porque existe tanta polêmica em torno do longa?

A trama acompanha um líder do cartel mexicano que decide passar por uma transição de gênero e fugir da polícia. Após a transição, ela adota a identidade de Emilia Pérez e começa uma nova fase de sua vida. No entanto, a transformação traz desafios inesperados, especialmente em relação ao seu passado criminoso e às consequências de suas ações.

Já podemos dizer que qualquer que fosse a abordagem escolhida para o filme, ele causaria algum falatório pelos seus temas, mas temos que acrescentar a equação que o filme é um musical. Ou seja, existem pessoas que já entram predispostas a odiar o longa seja por ele falar sobre mudança de gênero, ou por não gostar da violência que o tema do cartel mexicano aborda, ou por simplesmente não gostar de musicais. A grande questão de Emilia Pérez é que apesar de assuntos interessantes e relevantes e uma escolha ousada em como contar isso, eles o fazem de forma no mínimo equivocada e questionável.

Pra começar que o filme não foi gravado no México, e o próprio diretor Jacques Audiard disse que não fez nenhum tipo de pesquisa específica para idealizar seu filme, suas ideias de como representar o país já estavam em sua cabeça. A única atriz mexicana entre as personagens principais é Adriana Paz, que tem um papel muito pequeno. Karla Sofía Gascón, a protagonista, é espanhola enquanto Zoe Saldaña e Selena Gomez são norte americanas, e a última ainda é bastante criticada pelo seu sotaque fortíssimo, tendo uma carreira toda pautada em sua ascendência latina, mas nunca tendo aprendido o idioma propriamente dito.

A própria comunidade mexicana aponta que tudo é muito estereotipado e que a visão do diretor é muito antiquada sobre o país. Outra tratamento que deveria ter sido melhor feito se refere a comunidade transexual, que também problematiza a forma como a transição de gênero é apresentada. Isso esbarra também na parte musical, pois vários desses momentos de aprofundamento de personagem são mostrados em números de canto e dança, e na verdade a grande maioria deles são ridículos. Há quem defenda que deveriam ser encarados como uma paródia, mas em nenhum momento o próprio filme propõem este tipo de interpretação já existem números que deveriam ser também genuinamente tocantes, mas as letras e a montagem muita vezes acabam com qualquer sentimento positivo que poderia ser gerado.

Na questão das músicas, outra polêmica pode ser apontada, que seria o uso de Inteligência Artificial para que a protagonista conseguisse cantar melhor e alcançar determinadas notas. É importante lembrar que esse fato só foi veiculado bastante tempo depois de toda repercussão do longa, o que aumenta o sentimento de ser enganado ao assistir e achar que a atriz estava performando tão bem.

Falando em atuações, o grande destaque é Zoe Saldaña, que inclusive poderia até se argumentar que é no mínimo co-protagonista do filme, já que a trama se inicia com ela sendo uma advogada desvalorizada mas muito competente e tudo vai se desenrolando através de seu ponto de vista, já que o chefe do cartel vai atrás dela para tratar dos tramites legais e burocráticos para sua transição de gênero que precisa ser feita de forma praticamente secreta.

Apesar de ser ousado e de tratar de assuntos muito relevantes, o faz de forma muito superficial e sem o devido cuidado e respeito. Além disso deixa a desejar em muitos aspectos técnicos e acima de tudo falha como um musical com músicas estapafúrdias ou simplesmente não muito memoráveis.

Mas com tudo isso posto, como o filme conseguiu tanta repercussão positiva em festivais e é apontado como grande favorito do Oscar 2025? A resposta mais plausível é que americanos e europeus fazem filmes para si mesmos, para repercussão em seus festivais e seu próprio lucro, claro. Ao tratar de assuntos delicados é necessário ter cuidado redobrado e muita delicadeza, para não fazer uma obra que pode causar o efeito contrário do que se imaginava.

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SOBRE O AUTOR

Vinicius Lunas

Um rapaz simples de gosto requintado (ou não). Curto de tudo um pouco (cinema, tv, games, hq, música), bom em particularmente nada. Formado em Letras pela Universidade de São Paulo, mas desde os 14 anos formando um bom gosto musical.

 

 


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