PUBLICADO EM 28/01/2025

Flow

 

Flow

Flow, animação independente dirigida pelo cineasta letão Gints Zilbalodis, vem fazendo história sendo ganhadora do Globo de Ouro e indicada ao Oscar 2025 nas categorias de Melhor Animação de Melhor Filme Internacional.

Na trama temos Gato, um animal solitário e independente, mas quando seu lar é destruído por uma grande inundação, ele encontra refúgio em um barco habitado por diversas espécies, tendo que se juntar a elas apesar das diferenças.

Mesmo que você não saiba o contexto da criação de Flow, é impossível não ficar deslumbrado com o visual da animação, que é bastante diferente do que estamos acostumados no cinema. As vezes até lembra uma cutscene de video game, mas isso não é demérito algum, até porque como todos os personagens são animais, não existe nenhuma estranheza que algum ser humano poderia causar.

As escolhas de ângulo de câmera, as vezes de cima pra baixo, as composições de cena, a iluminação, tudo é incrivelmente bem feito e cuidadoso, nos fazendo mergulhar neste mundo lindo e vívido, mas ao mesmo tempo hostil, com as forças da natureza sendo implacáveis. Diferente de muitas outras animações, você percebe um cenário vivo, quando bate um vento ao fundo você vê as folhas das árvores se mexendo.

Tudo isso fica ainda mais impressionante quando descobrimos que Zilbalodis fez tudo com o Blender, um programa de animação 3D de código aberto. Se você quiser neste momento baixar o programa gratuitamente e fazer sua própria animação, você pode. Claro que talvez lhe falte a habilidade do animador, mas essa é a questão, numa indústria onde tudo está ficando cada vez mais automatizado e sendo feito com IA, algo feito desta maneira é quase um ato de resistência.

Fora a parte técnica, a história mesmo sendo simples é extremamente bem contada e eficiente, e tem em seus personagens uma força absurda. Todos os animais tem uma personalidade muito própria, e mesmo sem dizer nenhuma palavra é possível entender todos, cada um a sua maneira. É possível perceber os trejeitos de cada espécie em tela, como o Gato, que é arisco e desconfiado a princípio, mas que vai se afeiçoando aos seus novos amigos ou os cachorros que por conta de suas personalidades intempestivas quase põem tudo a perder em determinados momentos. E o que dizer da Capivara, que passa uma tranquilidade e respeito apenas com o olhar, e é quem consegue manter o grupo unido nas maiores adversidades.

No meio desse cenário apocalíptico de dilúvio é possível fazer alguns paralelos com passagens bíblicas e existe até um momento mais etéreo, que por sinal é lindíssimo, mas esse não é o foco do filme. Muitas vezes os cenários e jeito como a narrativa avança lembra os jogos de Fumito Ueda (Ico, Shadow of the Colossus e The Last Guardian), a tranquilidade, a calma, o mistério de um lugar desconhecido e pouco habitado mas que tem uma aura quase transcendental.

Enfim, Flow é uma pequena joia lapidada com muito carinho e esmero e que já fez história ao estar brigando em pé de igualdade com gigantes da indústria. Um boa experiência cinematográfica, acima de tudo, mais do que contar uma história com começo meio e fim, deve nos fazer sentir, e Flow faz isso com maestria.

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SOBRE O AUTOR

Vinicius Lunas

Um rapaz simples de gosto requintado (ou não). Curto de tudo um pouco (cinema, tv, games, hq, música), bom em particularmente nada. Formado em Letras pela Universidade de São Paulo, mas desde os 14 anos formando um bom gosto musical.

 

 


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