Karatê Kid teve seu auge ao longo dos anos 80, e sobreviveu ao longo dos anos 90 e 2000 por conta da nostalgia dos fãs e reprises na tv. Em 2010 ouve um remake relativamente bem sucedido, que trouxe uma nova leva de fãs, mas que parou por ai. O novo ressurgimento da franquia veio inesperadamente com a série Cobra Kai, que estreou em 2018 como um projeto original para o Youtube Premium, e depois de ser cancelada após duas temporadas foi salva pela Netflix, se tornando um dos grandes sucessos da plataforma.
Isso possibilitou um novo projeto mais ambicioso para os cinemas, promovendo o encontro entre Ralph Macchio e Jackie Chan, unindo tanto os fãs do original e da série, como o do remake.
Na trama do longa, após uma tragédia familiar, o prodígio do kung fu Li Fong (Ben Wang) deixa sua casa em Pequim e se muda para Nova York com sua mãe (Ming-Na Wen). Li luta para deixar seu passado para trás enquanto tenta se encaixar com seus novos colegas de classe e, embora não queira brigar, problemas parecem encontrá-lo em todos os lugares. Quando um novo amigo precisa de sua ajuda, Li entra em uma competição de karatê – mas suas habilidades por si só não são suficientes. O professor de kung fu de Li, Sr. Han (Jackie Chan), convoca Daniel LaRusso (Ralph Macchio) para ajudar, e Li aprende uma nova maneira de lutar, fundindo seus dois estilos em um para o confronto final de artes marciais.
Karatê Kid é o suprassumo da nostalgia, porque todo fã com total controle das suas faculdades mentais sabe que o filme original não é nenhuma obra de arte, mas é algo tão próprio do seu tempo e acompanha uma bagagem de tempos mais simples que é impossível não ter um carinho especial por ele. Cobra Kai acabou sendo um sucesso por conta de entender esse apelo nostálgico, mas corrigindo coisas que no passado faziam sentido e hoje não fazem mais, com muitas doses de cafonice e momentos “massavéio“. Eu particularmente a considero melhor pior série.
Dito isso, o filme tem muito mais a ver com o remake de 2010 do que qualquer outra coisa. Temos algumas inversões de situação, como protagonista chinês indo para os EUA, e ele tendo que ensinar alguém a lutar ao invés de só aprender. O primeiro terço do longa da a impressão de que os traumas e os aspectos mais introspectivos do personagem principal vão ser um componente de muito impacto na trama, e o filme demora até se tornar um filme de luta de fato, o que é até surpreendente. Mas a partir de certo momento todo esse desenvolvimento é jogado pela janela e tudo que queremos é ver ele dando pirueta no ar e saindo na porrada com alguém, afinal ainda estamos falando de um filme de luta.
E é um filme de luta mesmo, sem se preocupar muito com o estilo, pois além do karatê e kung fu, ainda temos lutas de boxe. Não seria surpresa se daqui a pouco tivéssemos um MMA Kid. No meio de tudo isso, temos algumas lutas bem coreografadas, que lembram um pouco o melhor estilo do Jackie Chan, mas que ainda ficam abaixo obviamente. O diretor Jonathan Entwistle, mais conhecido por seus trabalhos em série de tv, talvez não consiga tirar o melhor das cenas de luta, mas faz um trabalho competente. O seu forte mesmo parece ser a interação com o elenco jovem.
Falando em série de tv novamente, dá a impressão que o filme talvez seria melhor se tivesse sido dividido em capítulos e com mais tempo para desenvolvimento. Pois existem várias coisas que são apresentadas e ficam no ar, ou simplesmente não tem desenvolvimento satisfatório. Todo o plot da dívida do Victor (Joshua Jackson), que deveria ser uma grande ameaça, no final não parece ter muito peso, o rival de Li, interpretado por Aramis Knight, é apenas um cara mal e ponto, não existe construção nenhuma. E a mãe do li, que inclusive divide o trauma com ele, sequer tem nome no filme.
Apesar de tudo isso, Karatê Kid: Lendas consegue cativar com bons momentos cômicos e de lutas. É como estar assistindo o mesmo filme pela terceira ou quarta vez, com uma ou outra mudança? Sim, sem dúvida, mas ainda é divertido. O filme apela para nostalgia de forma consciente, se aproveitando de uma estética mais descolada para cativar uma nova geração, mas sem esquecer do público antigo.
Nós estamos no Facebook e você também pode nos achar no Instagram e X antigo Twitter, curta as páginas e fique por dentro do UNIVERSO REVERSO.