Existe o típico filme de assassino de aluguel, onde vemos alguém metódico, centrado, frio, desprovido de emoções, típicos sociopatas, que são os únicos capazes de exercer essa função de maneira tão bem feita. Em O Assassino, temos isso bem exemplificado na figura de Michael Fassbender, mas David Fincher consegue fazer um típico filme de gênero subverter suas próprias regras.
A trama é baseada nos quadrinhos de Alexis Nolent e Luc Jacamon, onde depois de um erro crucial num trabalho, um assassino enfrenta seus empregadores, em uma caçada humana internacional. A trama é tão simples quanto aparenta ser, pois o foco fica totalmente no personagem de Fassbender, que a propósito não tem um nome definido, ele sempre está usando identidades falsas, então apesar de entrarmos na rotina dele, ainda permanece uma distancia e frieza enigmática quanto ao protagonista.
Essa frieza e distanciamento permeiam todo o filme aliás, sabemos como o protagonista a age, como ele pensa, mas nunca conhecemos ele de fato, como ele chegou até ali, o que de faro o motiva, sua real identidade, algo que é crucial para o desenrolar e desfecho do longa, mas um aspecto mais existencial.
A construção inicial é muito bem feita, apesar da narração em off exagerada, talvez emulando filmes mais antigos, quase atrapalhe o clima. É muito curioso ver seu método rígido de trabalho e tudo indo por água abaixo quando justamente um erro acontece, mesmo depois de todo cuidado e preparação.
Após o incidente, o assassino foge, algo natural, mas temos outra quebra de expectativa, pois a motivação para ir atrás de seus empregadores, não é nem sua sobrevivência, mas sim pura a simples vingança. Nosso metódico e frio assassino demonstra algum tipo de sentimento. Ao longo da jornada seria natural ver um lado mais humano dele aflorar, mas isso nunca acontece, ele simplesmente não se importa, como ele mesmo diz.
Essa pequenas subversões tornam O Assassino algo diferenciado, onde temos todos os elementos desse tipo de filme, incluindo boas cenas de ação, mas de uma forma que não estamos esperando se paramos para pensar. O próprio jeito como ele consegue invadir os locais e para pegar informações e suas vítimas, não são muito elaborados, são coisas quase banais, é a antítese de um Missão Impossível, por exemplo.
Tudo isso custa o desenvolvimento dos personagens secundários, e da própria ambientação dos vários locais que passamos no longa, mas mesmo assim toda a atmosfera criada por Fincher e com a ajuda da trilha sonora de Trent Reznor e Atticus Ross, é muito bem construída, sem falar no uso de The Smiths ao longo de todo o filme.
O final segue a mesma linha do filme, podendo soar até anticlimático, mas a percepção do protagonista que ele é apenas mais uma engrenagem num mundo regido pelo capitalismo, mesmo estando num ramo muito específico e que envolve muito dinheiro é a cereja do bolo de Fincher, que consegue elaborar um thriller peculiar, mas que se encaixa perfeitamente no gênero.
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