Tempos de Barbárie – Ato I: Terapia da Vingança é um filme escrito e dirigido por Marcos Bernstein, que dirigiu filmes como O Amor Dá Voltas (2019) e Meu Pé de Laranja Lima (2012), mas que tem em seu currículo como roteirista obras como Faroeste Caboclo (2013), Zuzu Angel (2006) e Central do Brasil (1998), além de diversos trabalhos para tv.
Em seu novo longa acompanhamos Carla (Cláudia Abreu), uma mãe que vê a filha ser baleada durante uma tentativa de assalto. A menina fica em estado grave. Carla, sem conseguir aceitar o destino da filha e a falta de soluções por parte da polícia, transforma a busca por justiça em uma procura por vingança. No balanço entre a vida e a morte a qualquer minuto, ela decide fazer a justiça com as próprias mãos e testar o seus próprios limites.
O drama estabelece a tragédia que acomete a família para depois aos poucos, por meios de flashbacks, ir construindo a relação entre mãe e filha, mas há uma dificuldade imensa em encaixar eles de forma que realmente ofereçam algum tipo de impacto narrativo, parecem apenas cenas aleatórias colocadas ali para tentar fazer o público se emocionar.
Todo o processo de transtorno que vai gerando-se na personagem principal acaba sendo sem sentido, pois após uma condição clínica, ela parte para atos de extremos do meio para o final, buscando vingança a todo custo, mas ela também já havia feito a mesma coisa antes disso ao simplesmente adentrar uma comunidade do Rio de Janeiro armada, em busca do traficante que colocou sua filha no hospital.
E talvez seja melhor nem entrar no mérito de que após ela decidir chutar o balde completamente, Carla se estabelece nesta comunidade dominada pelo tráfico e por policiais corruptos, de uma hora para outra, sendo uma figura completamente dissonante de todo resto, e ninguém ali a questiona ou tenta intimidá-la. Ela dá sumiço num dos traficantes e em um dos policias corruptos, sem a mínima cerimônia ou cuidados específicos, mas novamente nada parece incomodar qualquer outra pessoa que lá habite.
Chega a ser quase cômico, mesmo para uma obra de ficção que não tem necessariamente compromisso com a verdade, pois diariamente temos notícias de retaliação entre Policias e bandidos, gerando literalmente chacinas, mas Carla consegue sozinha algo inimaginável até mesmo para o Batman pela visão sangue nos olhos de Zack Snyder, e sem muito preparo, diga-se de passagem.
Até tenta-se fazer uma mea-culpa quando os personagens questionam quem seria o principal responsável pela filha de Carla ter sido uma vítima: a pessoa que atirou? Quem forneceu a arma? O fabricante? Como tentando passar uma visão geral do problema, mas tudo tem a profundidade de um pires, e acaba tudo ficando no campo pessoal, pois ela tortura e espanca o cara que puxou o gatilho no fim das contas. Praticamente tudo se resume a meter pipoco na cara de quem te prejudicou.
A fotografia parece opaca, lavada, sem vida, e o ângulo holandês é usado e abusado, algumas vezes de maneira satisfatória, mas outras por puro preciosismo mesmo. Cláudia Abreu entrega aquilo que lhe é pedido, e nenhum dos outros personagens tem grande destaque, com exceção da personagem e Júlia Lemmertz. O marido da protagonista chega a quase desaparecer do meio pro fim.
Se mudassem o nome do filme para Um Tiro de Justiça, e falassem que quem dirigiu foi a Jojo Todynho eu acreditaria.
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