Lovecraft Country, série da HBO baseado no livro escrito por Matt Ruff, se passa nos Estados Unidos de 1950, e começa acompanhando Atticus Freeman (Jonathan Majors) que vai em busca de seu pai desaparecido (Michael Kenneth Williams) junto seu tio George (Courtney B. Vance) e sua amiga Letitia (Jurnee Smollett-Bell).
Essa busca revela a Atticus muito mais do que ele espera, revelando os segredos por trás da sua ancestralidade e um mundo cheio de magia, fantasia e perigos, muitos perigos.
A série conta com produção dos badalados Jordan Peele e J. J. Abrams, mas quem brilha de fato é Misha Green, criadora, produtora e roteirista que consegue adaptar a a obra de Ruff muito bem. O livro é composto por contos, cada um focado em personagens diferentes, com um plano de fundo que mantém tudo coeso. Essa transposição acontece também para as telas de tv, mas deixando a história principal muito mais amarrada.
Como o nome sugere, a obra de H. P. Lovecraft é fonte de inspiração pra muita coisa que vimos ao longa da série, como lugares e monstros, mas ela vai muito além disso. As referências são riquíssimas, indo de outros autores da literatura pulp como Edgar Rice Burroughs, a grandes romancistas como Alexandre Dumas. Discursos e poemas de personalidades negras são inseridos em diversos momentos, dando mais profundidade e outras leituras para as cenas e a trilha sonora não se contenta em usar músicas da época, como também outras mais atuais.
Ao longo dos dez episódios temos diversos subgêneros do terror, fantasia e ficção científica explorados: monstros, fantasmas, maldições, viagem no tempo, etc. Isso somado ao desenvolvimento de diversos personagens dá um vigor e frescor a mais para série, que vai se reinventando a cada episódio.
O elenco é excepcional, Jonathan Majors tem o carisma e presença necessária ao seu personagem, que é bondoso e corajoso mas que por vezes sabe ser duro e voraz. Jurnee Smollett-Bell vai sempre numa crescente junto de sua personagem e toma as rédeas do protagonismo sempre que necessário. Michael Kenneth Williams por sua vez tem o personagem com mais camadas, e sua relação de pai e filho com Atticus é complexa e desenvolvida aos poucos. Impossível não citar Wunmi Mosaku como Ruby, Aunjanue Ellis como Hippolyta e Jamie Chung como Ji-Ah, cada uma tem seu episódio especifico para brilhar.
Mas o grande trunfo de Lovecraft Country sem dúvidas, é usar de todas essas referências e contexto histórico para falar sobre algo que poderia ter ficado nos nos 50, mas que vemos até hoje: o racismo. A ideia inicial de Ruff em se utilizar de Lovecraft, um escritor reconhecidamente racista, que reproduzia os preconceitos da sociedade em que viveu em seus livros, para falar do tema explicitamente e colocando os negros como protagonistas, já é incrível e Misha Green fez jus ao material e amplia ainda mais a discussão.
Do ponto de vista técnico, o seriado apresenta efeitos especiais e visuais muito bons, entretanto como cada episódio praticamente conta uma história própria, o ritmo por vezes cai ou acelera muito, sem falar nas conveniências de roteiro, ou coisas não muito bem explicadas.
Ao final o saldo é extremamente positivo, deixando um recado muito claro sobre legado e sacrifícios. É necessário que quem vem antes ande para que o próximo consiga correr. O ciclo se fecha mas existe possibilidades e potencial para mais histórias.
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