Dark é a primeira série original Netflix produzida na Alemanha, criada por Baran bo Odar e Jantje Friese. Em uma mistura bem elaborada dos gêneros suspense, drama, policial e ficção científica a série é uma grata surpresa no catálogo de streaming. A trama gira em torno de quatro famílias de uma pequena cidade alemã, e após o desaparecimento de alguns jovens os mistérios envolvendo três gerações das famílias vão se desenrolando. Esta sinopse é bem vaga propositalmente, pois os elementos que nos são apresentados cuidadosamente ao decorrer da série são como se fossem peças de xadrez distribuídas num tabuleiro e move-las antes da hora podem estragar o xeque-mate. Não que exista um grande plot twist final, as peças vão se encaixando nesse enorme quebra cabeça, o gostoso é justamente ver essa montagem, aparentemente complexa, mas que está apenas embaralhada.
Nos dez episódios que se se seguem sua percepção do que está acontecendo vai se alterando. Tudo começa parecendo um drama adolescente (e não digo isso no sentido pejorativo, pois assuntos sérios como suicídio e o peso de lidar com a morte são abordados logo no começo), vai passando pelo suspense, algo sobrenatural, ou fora do comum acontece nesta cidade? A trama policial para resolver o crime vai se desenrolando, tudo isso pincelado com pequenos insinuações de viagem no tempo (no trailer inclusive). Parece que nada disso vai se encaixar, que todas as pontas vão ficar soltas, mas por incrível que pareça tudo acaba se conectando. E tudo isso com calma, a série não se apressa, colocando elementos na hora que devem ser apresentados ao público, tão pouco parece ter episódios sobrando como algumas feitas em parceria com a Marvel.
Em nenhum momento a audiência é menosprezada. Existem vários personagens, e muitos nomes para lembrar e ligações entre eles para serem feitas (quem é filho de quem, quem tem caso com quem, etc) mas ela não fica martelando isso na sua cabeça, você vai pegando aos poucos e no momento certo. Todos os personagens são importantes, cada um tem sua função e mesmo quando você acha que já conheceu todos, aparece um novo (ou seria alguém que já conhecemos mas em outro momento?). Também é notável a atuação e o casting do elenco, tudo muito bem feito.
Existiu muita comparação entre Dark e Stranger Things, pela trama do sumiço de crianças, pela ligação com os anos 80, o clima sombrio da cidadezinha pequena, etc, mas inegavelmente a maior inspiração é Twin Peaks, fora a gama de personagens e a trama que parece que não vai fazer sentido, quando a câmera passeia pela floresta mostrando os pinheiros é impossível não associar isso os takes de David Lynch.
Aparentemente Dark foi um sucesso, após estrear dia 1 de dezembro de 2017 e já foi renovada para uma segunda temporada 20 dias depois. Esperamos que ela não perca o fôlego e pelo menos mantenha a qualidade e sua identidade, debatendo como nossas ações podem influenciar no passado (ou futuro), ou se tudo já está pré determinado ou temos como alterar nosso destino, ou nem se é possível, mas se devemos alterar. Vá com o coração e a mente aberta para saborear está pequena pérola da Netflix.
Um rapaz simples de gosto requintado (ou não). Curto de tudo um pouco (cinema, tv, games, hq, música), bom em particularmente nada. Formado em Letras pela Universidade de São Paulo, mas desde os 14 anos formando um bom gosto musical.
