Em Viúva Negra o Marvel Studios tentou recuperar o tempo perdido se aprofundando na história de um dos membros fundadores dos Vingadores, e isso acontece também na série do Gavião Arqueiro, último do grupo original de heróis a ganhar uma produção própria.
Diferente do filme da Viúva, a série do Gavião não carrega o peso de ser uma despedida formal da personagem, e por isso tem um ar muito mais despretensioso e cômico. O clima natalino também ajuda a tirar um pouco do peso do programa, que com certeza foi pensado para que toda família se reúna durante este final de ano e acompanhe os episódios.
Na trama Clint Barton (Jeremy Renner) tenta apenas passar as festas de final de ano com sua família, mas quando uma sombra do seu passado vem a tona, ele acaba se juntando com Kate Bishop (Hailee Steinfeld), jovem arqueira que o tem como inspiração, para resolver o problema.
Assim como no filme da Viúva, a passagem de bastão para um personagem mais jovem se faz presente, e com isso somos apresentados a carismática Kate Bishop. Kevin Feige disse em entrevistas que Steinfeld era a primeira opção para o papel, e ele definitivamente acertou no alvo. Ela traz a vivacidade, o humor, a fisicalidade e as nuances dramáticas necessárias para a personagem, sendo o contraponto perfeito para o cansado Clint Barton.
Barton por sua vez, mesmo com mais tempo disponível dentro de um seriado de seis episódios, não tem suas origens exploradas, como a Natasha Romanoff teve em seu filme. Apenas o passado recente do personagem nos filmes dos Vingadores é explorado, de forma muito satisfatória é verdade, já que ele carrega muito peso pela morte de sua amiga e de escolhas feitas durante o estalo do Thanos. Entretanto, numa série que leva seu nome, seria de se esperar que suas origens fossem mostradas. Mesmo depois de todo esse tempo no MCU não sabemos quais foram suas motivações inicias, como ele ficou tão bom com o arco, como ele entrou para S.H.I.E.L.D., etc. Não que isso não possa ser explorado numa eventual segunda temporada, mas no momento não trabalhamos com bola de cristal para adivinhar o futuro.
A cenas de ação ao longo do seriado tem altos e baixos, algumas perseguições de carro e cenas de luta são bem empolgantes, mas outras, principalmente na segunda metade do seriado, tem coreografia pouco inspirada e cortes que não ajudam na fluidez dos movimentos, parecem mais tentar esconder os dublês do que qualquer outra coisa. Diferente de Loki ou WandaVision, esta série não é tão exigida em termos de efeitos especiais, ficando mais com o pé no chão.
Diferente do que poderia se esperar, Gavião Arqueiro abre um leque muito interessante quanto ao Universo da Marvel, quase como um recomeço para a parte urbana dos heróis, deixada de lado com o fim de séries como Demolidor e Jessica Jones na Netflix. Temos por exemplo a introdução de Maya Lopez (Alaqua Cox), que tem papel importante quanto a representatividade de pessoas com deficiência auditiva, mas que não passa de uma grande introdução para o que virá em sua série própria.
A série faz várias referências a conceituada série de quadrinhos de Matt Fraction e David Aja em qual se inspira, mas que por vezes ficam vazias, como presença do cachorro Lucky, que apesar de muito fofo não tem motivo nenhum para estar na série. Outra decisão questionável é a presença de Tony Dalton como Jack Duquesne, usado apenas como cortina de fumaça para tirar atenção do expectador de outras coisas, e quem sabe mais pra frente ele retorne como alguém relevante. A bem da verdade a Marvel sempre fez isso, o próprio Gavião aparece pela primeira vez gratuitamente no filme do Thor, só pra não dizerem que ele caiu de paraquedas em Vingadores, mas depois de tanto tempo era de se esperar que isso melhorasse. A mesma coisa acontece com o personagem de Kit Harington em Eternos, mas lá consegue ser ainda pior.
No fim das contas Gavião Arqueiro diverte, guardando algumas boas surpresas que geram impacto no MCU e prepara o terreno para novos personagens. Mesmo abordando a jornada de culpa e remorso de Clint muito bem, ela nunca se permite ir totalmente a fundo nessas questões mais dramáticas e relevantes, o que tira um pouco de sua força, mas de qualquer forma cumpre seu papel.
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