O cineasta Adam Mckay já é bastante conhecido por trabalhar em seus filmes com senso de humor e críticas ácidas se baseando em fatos reais, como a crise imobiliária de 2008 nos EUA em A Grande Aposta e a trajetória de Dick Cheney, vice-presidente de George W. Bush em Vice.
Em Não Olhe Para Cima, produção com grande elenco bancada pela Netflix, Mckay imagina uma possível catástrofe que pode ser vista como uma metáfora para algumas coisas que vivemos na atualidade, e faz um retrato de como, enquanto sociedade reagiríamos a isso.
A trama do filme acompanha dois astrônomos (Leonardo DiCaprio e Jennifer Lawrence), que após uma grande descoberta, precisam embarcar em uma turnê midiática para alertar a humanidade de que um cometa gigantesco está em rota de colisão com a Terra.
A ideia proposta e o timing de lançamento não poderiam ser mais oportunos, visto as ondas negacionistas e circo midiático no nosso cotidiano, mas falta ao longa potência pra ir mais fundo nas feridas que ele pretende cutucar. A ideia é fazer graça de uma situação absurda e desesperadora, o problema é que basta assistirmos qualquer jornal que nos deparamos com coisas muito próximas, e mais desesperadoras, já que são reais.
O Dr. Mindy, personagem de DiCaprio, é o que ganha mais destaque e tem sua jornada melhor trabalhada, junto com uma ótima atuação, que na verdade quase destoa de outros que parecem estar mais comprometidos com a galhofa, como a Presidente dos EUA vivida por Meryl Streep e a âncora do jornal vivida por Cate Blanchet. Já Jennifer Lawrence vivendo a astrônoma Kate Dibiasky, que faz de fato a descoberta do cometa, tem um desenvolvimento decepcionante. Há um comentário sobre como as mulheres são desacreditadas e postas como desequilibradas ao demonstrar sentimentos, mas isso não é nem de longe bem explorado, seus melhores momentos são numa piada recorrente sobre salgadinhos.
Mark Rylance vive um personagem que faz paralelo com multimilionários como Elon Musk, Mark Zuckenberg, Jeff Bezos e Bill Gates, mas é outro que sofre pela excesso de caricatura e falta de graça. Jonah Hill embora tenha um papel bem menor acerta muito bem no humor. Outras participações de peso como Ariana Grande, Timothée Chalamet e Ron Perlman, estão apenas para chamar atenção e poderiam facilmente ter sido retirados do corte final sem grandes prejuízos.
O final tenta puxar um apelo bem mais dramático que o restante do filme, com direito a uma montagem bem brega estilo Discovery Channel, e não contente ainda tem duas cenas pós créditos que servem apenas como piada, quebrando o clima amargo deixado na boca. Em resumo, as conversas que Não Olhe Para Cima pode gerar são bem mais interessantes que o filme em si, que perde força para a própria realidade maluca que vivemos e a falta que um humor mais efetivo.
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