Obra máxima do escritor Neil Gaiman, os quadrinhos de Sandman começaram a ser lançados no final dos anos 80, e uma adaptação era especulada a bastante tempo. Por diversos motivos ela nunca aconteceu, até agora, quando a Netflix bancou um dos projetos mais audaciosos já feitos pela plataforma.
Na trama, acompanhamos Morpheus, Senhor do Reino dos Sonhos, que acaba aprisionado por décadas e ao se libertar precisa recuperar seus itens de poder para reerguer seu reino que ficou em ruínas em sua ausência e as consequências que isso trouxe para a humanidade.
Ao longo de dez episódios, a série adapta os dois primeiros arcos dos quadrinhos, Prelúdios e Noturnos, onde Morpheus precisa reestabelecer o sonhar, e Casa de Bonecas, onde a descendente de alguém diretamente afetada pela ausência de Morpheus acaba desenvolvendo poderes em seus domínios, afetando a instabilidade do mundo real, enquanto busca por seu irmão mais novo e tenta fugir de um pesadelo perigoso que não deseja voltar ao Sonhar.
Com pequenas alterações aqui e ali, afim de deixar a trama mais coesa e amarrada, Sandman é extremamente fiel ao material original, tanto no ótimo texto de Gaiman, quando em algumas cenas e enquadramentos que parecem retirados diretamente do gibi. Não que essa exatidão implique em qualidade, mas mostra como a fonte tem enorme substancia e um respeito para com o material original.
E apesar disso, o maior acerto é sem dúvida no tom da série, sobre o que é realmente a essência de Sandman. Não uma luta entre o bem e o mal, não é algo maniqueísta, o protagonista não é sempre bom e justo, se trata de um ser mais antigo que o próprio universo, que não deve nada a ninguém e ainda está extremamente aborrecido por seu período enclausurado. Tom Sturridge caiu como uma luva para o papel principal, trazendo no começo uma fragilidade e amargura, seguidos de soberba, que aos poucos vão se transformando conforme ele vai reaprendo seu papel diante da humanidade, e o mais importante, o da humanidade para ele.
A bem da verdade é que o primeiro episódio talvez seja o mais complicado do público embarcar, pois tem que apresentar todo esse conceito e peque um pouco em seu ritmo, mas conforme vai passando só melhora. Temos a sequência dos episódios 4, 5 e 6, que são sem dúvida alguma o ápice da série, colocando uma sequência que meio que estabeleceu o que de fato Gaiman queria para o personagem. São histórias que tem um contexto, mas mesmo que avulsas, são maravilhosas, tanto que o episódio do restaurante Morpheus é um mero coadjuvante.
Os quatro episódios finais são dedicados ao arco Casa de Bonecas, que mostra como Sandman pode ser criativo e bizarro, com algumas partes chocantes como no episódio 5, é talvez o mais próximo que a Netflix já chegou da HBO, em termos de série de fantasia.
Sandman foi algo tão a frente de seu tempo, que muito do que é abordado parece extremamente atual, e o cuidado com que tudo foi feito torna a experiência ainda mais prazerosa. Apesar de ser fácil e gostosa de maratonar, muitos episódios ganham demais com algum respiro para poder ser apreciado e digerido.
O sonhar de fato invadiu nossa realidade e fez de Sandman um enorme acerto da plataforma, caindo no gosto da crítica e do público. Vamos torcer para que no final não vire um pesadelo.
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