O último trabalho do diretor Martin McDonagh é o impactante Três Anúncios Para Um Crime de 2017, e agora com Os Banshees de Inisherin ele se volta para uma história, aparentemente menor, mas cheia de significados.
Na trama, dois amigos de longa data encontram-se em um impasse quando um deles decide abruptamente terminar sua amizade, com consequências alarmantes para ambos. Tudo se desenrola a partir dessa premissa simples, e suas consequências vão ganhando proporções muito além do esperado.
O senso de humor do filme é excelente, com diálogos primorosos, um dos pontos altos do filme, e isso passa diretamente pelo roteiro, claro, mas também nas atuações. Não é à toa que os 4 atores principais estão indicados para o Oscar 2023: Colin Farrell como melhor ator, Brendan Gleeson, Berry Keoghan e Kerry Condon como coadjuvantes. Cada um ao seu estilo, desde o mais comedido como Gleeson ou cheio de trejeitos como Keoghan.
A história simples e que aos poucos vai se tornando absurda já seria bastante interessante, mas quando enxergamos além disso, e vemos o contexto em que o filme está inserido, ele se torna incrível. A racha entre os dois personagens pode ser analisado sob o olhar da Guerra Civil Irlandesa, que é bastante citada no longa, e tudo que se perde em decorrência disso. O personagem de Farrell aos poucos vai perdendo seu jeito simpático, o de Gleeson em determinado momento não consegue mais tocar seu violino ou seja, não consegue mais manifestar sua arte. Condon, que interpreta a irmã de Farrell, notadamente uma das pessoas mais inteligentes da ilha, aceita um emprego no continente e vai embora, além de outras passagens que demonstram uma clara perda de inocência, tudo em decorrência desse conflito.
A fotografia brinca várias vezes sobrepondo o perfil dos personagens, seja através de uma janela, ou por espelho, mostrando que apesar de próximos eles estão distantes numa esfera emocional.
McDonagh estrega uma obra incrível, cheia de nuances e questionamentos saindo de algo extremamente banal, conseguindo falar de algo grandioso a parir de um momento bastante íntimo, com total domínio de sua narrativa, as vezes divertida e as vezes beirando o brutal.
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Um rapaz simples de gosto requintado (ou não). Curto de tudo um pouco (cinema, tv, games, hq, música), bom em particularmente nada. Formado em Letras pela Universidade de São Paulo, mas desde os 14 anos formando um bom gosto musical.
