Filme de 2018, Homem-Aranha no Aranhaverso, foi um divisor de águas pro cinema em termos de animação, levando o Oscar na categoria e criando tendência visual pra animações atuais como Gato de Botas 2: O Último Pedido e o vindouro filme das Tartarugas Ninja. Dito isso, tivemos uma grande espera para continuação, ainda mais no modelo de produção a toque de caixa que Hollywood incentiva para ter maior lucro em um curto espaço de tempo. Ao ver o resultado em Homem-Aranha: Através do Aranhaverso, cada segundo de espera vale a pena.
Na trama, depois de um tempo atuando sozinho como Homem-Aranha no Brooklyn, Miles Morales (Shameik Moore) se reúne novamente com Gwen Stacy (Hailee Steinfeld), e acaba sendo catapultado através do multiverso, onde ele encontra uma equipe de Pessoas-Aranha comandadas por Miguel O’hara (Oscar Isaac), encarregadas de proteger a existência do multiverso. Mas, quando os heróis entram em conflito sobre como lidar com uma nova ameaça, Miles se vê confrontando os outros Aranha e precisa repensar o que significa ser um herói para salvar as pessoas que mais ama.
Tudo que o primeiro filme acerta, este segundo simplesmente aprimora, e em todos os aspectos possíveis e imagináveis. Falando apenas da animação em si, tecnicamente é impecável. Aqui mergulhamos de vez em outros mundos de diferentes Pesssoas-Aranha, como o da Gwen ou do Homem-Aranha Índia (Karan Soni) e cada um tem um visual único, como técnicas diferentes de arte e animação. Temos misturas absurdas como um Abutre (Jorma Taccone) da época renascentista, que parece ser feito de papiro no mio do mundo aquarelado da Gwen. E somos completamente arrebatamos com um Aranha-Punk (Daniel Kaluuya) que tem um estilo como se fosse recortes de jornal. É uma mistura absurda mas tudo funciona de uma maneira quase inexplicável. É tão estranho quanto inovador e revigorante.
As cenas de ação são de fazer qualquer um ficar sem fôlego, muitas delas são frenéticas e tem tanta informação e aranhas em tela que poderiam ser apenas uma bagunça, mas é tudo tão bem organizado, que apenas fazem a gente querer ver de novo para pegar todos os detalhes, que são impossíveis apenas em uma assistida.
E mesmo com todo o desbunde técnico e visual o filme não se esquece do que talvez seja ainda o mais importante: uma boa história. O filme já começa arrumando o que poderia ser apontado como um dos pontos fracos do primeiro, dando o destaque e desenvolvimento merecido para Gwen, aqui sua jornada é tão importante quanto a do Miles. E mesmo com ótima ação, o longa toma seu próprio tempo para desenvolver as relações entre os personagens. Miles tem momentos de diálogos profundos e engraçados, com seu pai (Brian Tyree Henry), sua mãe (Luna Lauren Velez) e com Gwen, que conta com uma cena contemplativa no topo de um prédio que é lindíssima.
Até a construção do vilão é excelente. Em meio a uma galeria de vilões dos mais variados e consagrados, escolheram o ilustre desconhecido Mancha (Jason Schwartzman), que tem começa como um alívio cômico, mas que vai se desenvolvendo como uma ameaça real ao multiverso. E conforme seus poderes vão aumentando, a arte ao seu redor vai ficando mais caótica, abstrata e experimental.
Existe um milhão de referências, fan service, ou easter eggs, chame como quiser, mas isso nunca é usado como muleta, apenas incrementa algo que já é especial ou realmente está integrado a trama. Trama essa inclusive que é muito bem amarrada, outra coisa que poderia desandar a qualquer momento devido a quantidade de personagens e da ambição do filme. Mas essa é a questão, este Aranhaverso vê o limite, e simplesmente o ignora.
A única parte ruim é literalmente quando o filme acaba, pois esta é a primeira parte de uma história maior, como já havia sido dito no material promocional, inclusive com a continuação já marcada para ano que vem. Mas o gancho é tão forte que se saísse semana que vem teria gente acampanado na frente do cinema.
Através do Aranhaverso é tudo que poderia se esperar da continuação do ótimo primeiro filme, mas ao mesmo tempo quebra e supera todas as expectativas, dando um show de excelência em tudo que se propõem.
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