As produções do cineasta Wes Anderson tem como marca registrada um grande capricho técnico, com composições e cenários que mais parecem pinturas, roteiros onde situações mundanas ganham contornos quase absurdos, diálogos afiados e seus elencos cada vez mais estrelados. Em Asteroid City temos o suprassumo disso tudo.
O filme é ambientado numa cidade ficcional do deserto americano por volta do ano de 1955. Nela, uma convenção dos Astrônomos Júnior/Cadetes do Espaço, organizada para reunir estudantes de todo o país para uma competição escolar de bolsas de estudos é espetacularmente interrompida por eventos que podem impactar e transformar o mundo.
Apesar da sinopse, logo na introdução, o filme começa como um antigo programa de tv, apresentado por Bryan Cranston, que irá abordar a criação de uma peça teatral escrita por Conrad Earp (Edward Norton), que narra justamente os eventos que se passam em Asteroid City. Durante o longa temos passagens que variam entre a seleção de elenco e os ensaios da peça, e o filme que retrata a peça, sem ser uma peça, mas um filme teatral. Parece confuso, mas não é. Existem também divisões em atos e cenas, fazendo nova homenagem ao teatro.
Apesar de ter uma trama descentralizada, não tendo um protagonista bem definido, o que pode afastar algumas pessoas da trama por falta de uma ligação emocional mais forte, quem mais chega próximo disso é o Augie Steenbeck, personagem vivido por Jason Schwartzman, um fotógrafo acostumado a cobrir guerras, que está levando seus filhos para casa do avô (Tom Hanks).
Apesar de estar acostumo a presenciar coisas horríveis e mortes, ele não consegue lidar com o próprio luto da esposa, não sabendo nem como aborda o tema com os próprios filhos. Tudo na sua vida parece sugerir que ele fique estagnado, seu trabalho é capturando momentos em um único frame e ele acaba ficando preso em Asteroid City. Mas graças e eventos surpreendentes, ele percebe que a vida de um jeito ou de outro precisa continuar. Ou pelo menos essa é uma leitura possível da situação.
Mas não se engane, apesar de todo o descrito anteriormente, esse é um dos filmes mais bem humorados de Anderson. Seu roteiro escrito a partir de um argumento feito ao lado de Roman Coppola tem diálogos e algumas situações muito peculiares, que não são do tipo que vão te fazer gargalhar, mas garantem aquele sorrisinho constante no canto da boca.
O elenco da produção é gigantesco, mas realmente poucos tem realmente algum desenvolvimento, nomes de peso com Tilda Swinton, Willem Dafoe e Steve Carell fazem apenas pequenas participações que realmente pouco acrescentam a trama.
A palheta de cores saturada do deserto em contraste com o preto e branco do teatro funciona muito bem como marcação de tempo de espaço e como já dito no começo, tudo que se pode esperar de um filme de Wes Anderson você encontra aqui. Talvez justamente por isso, um cansaço do seu público cativo pode vir a tona, se estiverem esperando algo a mais. Ainda mais após seu último projeto, A Crônica Francesa (2021), que chega a dividir opiniões pela falta de foco narrativo.
Asteroid City acaba por ser um filme muito fácil e prazeroso de assistir, evocando um sentimento de nostalgia de algo que nunca vivemos. Apesar de simples, pode ser lido de outras formas se passarmos pela superfície árida do deserto caótico e milimétricamente arranjado.
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