O diretor grego Yorgos Lanthimos sempre abraçou um estilo de cinema não muito convencional, ele busca discutir temas e sentimentos de forma abstrata, lúdica e por vezes inconveniente.
Em Pobres Criaturas, que tem roteiro de Tony McNamara, adaptando o livro de Alasdair Gray, acompanhamos Bella Baxter (Emma Stone), que morre, mas é ressuscitada graças aos experimentos de um brilhante – e bizarro – cientista (Willem Dafoe). Com um novo cérebro ela precisa aprender e se desenvolver novamente, mas as coisas mudam drasticamente quando o advogado Duncan Wedderburn (Mark Ruffalo) a leva numa aventura para conhecer o mundo.
Partindo do mito do Frankenstein, que não é nenhuma novidade, temos uma grande obra de discute liberdade, ética, a posição da mulher na nossa sociedade, sexo, e a capacidade das pessoas de mudarem, evoluírem e serem melhores. Tudo isso é feito de forma muito clara e apesar da profundidade, com momentos leves e muito engraçados.
O parte inicial do filme é em preto e branco, e só ganhar cores quando Bella sai de sua casa e ganha o mundo, achando estar finalmente livre. Mas as cores são propositalmente super saturadas, e há toda uma estética steampunk que deixa tudo num tom lúdico e meio estranho, num bom sentido. Outro elemento, que já é uma marca registrada do diretor, é a lente olho de peixe, que as vezes acentua ainda mais a estranheza.
A trilha sonora navega entre arranjos meio desconfortáveis, que crescem em momentos dramáticos e também, como no final, desaguam em belíssimas composições grandiosas que chegam a dar um toque épico ao desfecho.
Lanthimos não tem receio de falar sobre e mostrar o sexo, uma das principais chaves de mudança da personagem, embora não seja a única. A descoberta de sua sexualidade e como todos a sua volta reagem a isso é um dos focos principais do longa, em momentos tentado se aproveitar e em outros sendo moralistas.
Emma Stone está fantástica, tendo uma personagem extremamente carismática, divertida e complexa. Dafoe é sempre incrível, mesmo tendo uma participação reduzida depois do trecho inicial e Ruffalo faz uma ótima caricatura, transitando entre o galanteador ordinário e o babaca completo. O personagem de Rami Youssef acaba ficando apagado, embora seja funcional.
Pobres Criaturas é como se fosse um conto de fadas sobre a revolução sexual feminina, com toques de humor ácido e bizarrices, emoldurado num belíssimo quadro cheio de cores e sentimentos, onde a jornada de descobrimento e aceitação é a única coisa que interessa.
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