O diretor e roteirista Alex Garland, responsável por filmes como Ex_Machina – Instinto Artificial (2014) e Men: Faces do Medo (2022) disse em entrevistas durante a produção de seu mais novo longa, Guerra Civil, que pretende apenas honrar os contratos já assinados e se aposentar da direção, atuando apenas como roteirista. Ao ver essa declaração logo antes do filme estrear, parece muito um papinho pra promover o filme como sendo algo especial, ou que poderia ser o último como diretor de sua carreira. Após assisti-lo no entanto, é compreensível seu desejo, e explico mais ao final do texto.
Na trama do longa, em um futuro não tão distante, quando uma guerra civil se instaura nos Estados Unidos, uma equipe de jornalistas de guerra viaja pelo país para registrar a dimensão e a situação de um cenário violento que tomou as ruas em uma rápida escalada, envolvendo toda a nação.
O grupo de jornalistas em questão são Lee (Kirsten Dunst) famosa e premiada fotógrafa de guerra, Joe (Wagner Moura) audacioso repórter que claramente sente um certo prazer em estar naquelas situações de risco, Sammy (Stephen McKinley Henderson) repórter veterano, apaixonado pelo que faz, mas que sabe que não consegue dar conta das coisas como antes e Jessie (Cailee Spaeny) jovem fotógrafa, que se inspira em Lee, e acaba pegando carona com o grupo.
É muito curioso ver como esse grupo heterogêneo reage as situações ao longo do caminho e como suas percepções vão mudando. O caos está ocorrendo por todo o país, e isso é mostrado de forma direta e crua. Nos vemos dentro de tiroteios, explosões, pessoas morrendo de forma cruel e visceral, e muitas vezes sendo registradas por belíssimas fotos de Lee e Jessie. A primeira sai de um estado meio blasé e impassível para algo melancólico e questionador sobre sua função no meio disso tudo, enquanto a segunda, passa de uma jovem passional e melindrada para alguém destemida e ao mesmo tempo inconsequente as vezes.
Garland por vezes sincroniza tiros com cliques das máquinas fotográficas, frisando o frame com a foto tirada, algo extremamente simples e talvez clichê, mas que sempre causa um grande impacto e mostra que boas ideias bem executadas, mesmo simples, valem mais que milhões de orçamento e CGI. Mesmo com tantas atrocidades acontecendo, Garland consegue fazer takes belíssimos, e de uma forma meio cínica capturar a beleza dos horrores de uma guerra. Existe uma cena específica onde eles atravessam uma floresta pegando fogo que é simplesmente deslumbrante. A direção de Garland é ao mesmo tempo elegante e visceral.
Wagner Moura está incrível, assim como todo o elenco, até as pequenas participações de Nick Offerman e Jesse Plemons, mas claro como todo brasileiro a gente sente um orgulho especial vendo alguém tão talentoso ganhar um destaque merecido numa grande produção.
Guerra Civil passa longe de ser um filme fácil, mas é extremamente ousado a cutucar feridas de um Estados Unidos que nunca esteve tão longe disso. Apresentando muito mais questionamentos do que respostas fáceis, pode ser o típico filme ame ou odeie, mas que te deixa tenso do início ao fim. E voltando O fato de Garland dizer que quer se aposentar da direção, é fácil ele falar isso depois de entregar o melhor filme de sua carreira, porque é muito difícil ele fazer algo tão bom quanto Guerra Civil.
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