Cinebiografias sempre tiveram muito apelo no cinema, pois é a chance de chamar a atenção de uma base consolidada da fãs e quem sabe mostrar a vida e obra de um artista para um novo público. Desta vez foi Ney Matogrosso quem teve sua vida transformada em filme pelo diretor e roteirista Esmir Filho (Os Famosos e os Duendes da Morte).
O longa aborda desde a infância do cantor, marcada por embates com o pai (Rômulo Braga) por seu comportamento “afeminado”, a formação da emblemática banda Secos e Molhados, ao lado dos amigos João Ricardo (Mauro Soares) e Gerson Conrad (Jeff Lyrio), sua carreira solo e relacionamento com Cazuza (Jullio Reis).
Jesuíta Barbosa interpreta o cantor deste o inicio da fase adulta até um pouco mais velho, e logo de cara é preciso dizer que ele faz um excelente trabalho. Ele consegue demonstrar os trejeitos do Ney e suas expressões de forma bastante orgânica. Seria muito fácil cair num terreno perigoso de imitação ou ficar extremamente afetado, mas não é isso que ocorre. Sua presença no palco é incrível, ele domina cada ação, e entrega toda a energia necessárias das apresentações do cantor, conhecido por ser muito performático.
Quando ele está no palco percebemos que ele dubla a voz original de Ney, o que não é nenhuma novidade neste tipo de filme, mas é surpreendente quando em alguns momentos acústicos, Barbosa realmente canta, e de forma muito semelhante ao original. Essa não é entretanto a primeira vez que Jesuíta Barbosa dá vida a canções de Ney, pois na novela Onde Nascem os Fortes ele havia gravado uma bela versão de Mal Necessário, presente no álbum Feitiço (1978).
O maior problema de Homem com H, como nas maiorias das cinebiografias, é tentar passar por 50 anos de carreira de uma figura tão emblemática em 2h de filme. E neste caso a edição não ajuda muito, pois temos vários passagens de tempo onde Ney se muda para vários locais diferentes em estados diferentes em cenas que dura as vezes 5 minutos no máximo. Isso atrapalha o roteiro que apresenta também vários personagens sem muito contexto e os descarta da mesma forma.
Quando o filme foca nas relações amorosas mais marcantes, como na de Cazuza e Marco de Maria (Bruno Montaleone), temos uma elevação na dramaticidade, ainda mais com o assunto da AIDS presente durante os anos 80. Infelizmente a doença é abordada de forma um pouco superficial, principalmente devido ao tempo escasso provavelmente. Os problemas com a censura também sofrem deste mesmo mal.
Mas sem dúvida o grande arco dramático está na relação de Ney com seu pai, que a princípio até parece algo meio forçado, mas ao longos do anos, muito da relação fica naquilo que não é dito, mais do que o que é dito. E a aceitação do filho como um artista, e de como ele era de fato, é muito bonito.
Apesar de cair numa fórmula deste tipo de filme, Esmir Filho consegue construir cenas muito bonitas, e momentos que brincam até de forma lisérgica com o espectador. Há muitas cenas de nudez e sexo, sem nenhum pudor, como não podia ser diferente, já que Ney sempre foi essa figura livre e lasciva, tanto nos palcos como fora deles.
É muito bom ver esses grandes artistas serem homenageados em vida, e o final do filme mostra isso, com imagens da turnê de Ney de 2024, mostrando que ainda continua sendo quem ele sempre foi. Homem com H consegue mostrar a essência do artista, mesmo sem ser perfeito, o que já é muito mais do que a maioria dos filmes consegue.
Nós estamos no Facebook e você também pode nos achar no Instagram e X antigo Twitter, curta as páginas e fique por dentro do UNIVERSO REVERSO.