PUBLICADO EM 28/04/2025

Homem com H

 

Homem com H

Cinebiografias sempre tiveram muito apelo no cinema, pois é a chance de chamar a atenção de uma base consolidada da fãs e quem sabe mostrar a vida e obra de um artista para um novo público. Desta vez foi Ney Matogrosso quem teve sua vida transformada em filme pelo diretor e roteirista Esmir Filho (Os Famosos e os Duendes da Morte).

O longa aborda desde a infância do cantor, marcada por embates com o pai (Rômulo Braga) por seu comportamento “afeminado”, a formação da emblemática banda Secos e Molhados, ao lado dos amigos João Ricardo (Mauro Soares) e Gerson Conrad (Jeff Lyrio), sua carreira solo e relacionamento com Cazuza (Jullio Reis).

Jesuíta Barbosa interpreta o cantor deste o inicio da fase adulta até um pouco mais velho, e logo de cara é preciso dizer que ele faz um excelente trabalho. Ele consegue demonstrar os trejeitos do Ney e suas expressões  de forma bastante orgânica. Seria muito fácil cair num terreno perigoso de imitação ou ficar extremamente afetado, mas não é isso que ocorre. Sua presença no palco é incrível, ele domina cada ação, e entrega toda a energia necessárias das apresentações do cantor, conhecido por ser muito performático.

Quando ele está no palco percebemos que ele dubla a voz original de Ney, o que não é nenhuma novidade neste tipo de filme, mas é surpreendente quando em alguns momentos acústicos, Barbosa realmente canta, e de forma muito semelhante ao original. Essa não é entretanto a primeira vez que Jesuíta Barbosa dá vida a canções de Ney, pois na novela Onde Nascem os Fortes ele havia gravado uma bela versão de Mal Necessário, presente no álbum Feitiço (1978).

O maior problema de Homem com H, como nas maiorias das cinebiografias, é tentar passar por 50 anos de carreira de uma figura tão emblemática em 2h de filme. E neste caso a edição não ajuda muito, pois temos vários passagens de tempo onde Ney se muda para vários locais diferentes em estados diferentes em cenas que dura as vezes 5 minutos no máximo. Isso atrapalha o roteiro que apresenta também vários personagens sem muito contexto e os descarta da mesma forma.

Quando o filme foca nas relações amorosas mais marcantes, como na de Cazuza e Marco de Maria (Bruno Montaleone), temos uma elevação na dramaticidade, ainda mais com o assunto da AIDS presente durante os anos 80. Infelizmente a doença é abordada de forma um pouco superficial, principalmente devido ao tempo escasso provavelmente. Os problemas com a censura também sofrem deste mesmo mal.

Mas sem dúvida o grande arco dramático está na relação de Ney com seu pai, que a princípio até parece algo meio forçado, mas ao longos do anos, muito da relação fica naquilo que não é dito, mais do que o que é dito. E a aceitação do filho como um artista, e de como ele era de fato, é muito bonito.

Apesar de cair numa fórmula deste tipo de filme, Esmir Filho consegue construir cenas muito bonitas, e momentos que brincam até de forma lisérgica com o espectador. Há muitas cenas de nudez e sexo, sem nenhum pudor, como não podia ser diferente, já que Ney sempre foi essa figura livre e lasciva, tanto nos palcos como fora deles.

É muito bom ver esses grandes artistas serem homenageados em vida, e o final do filme mostra isso, com imagens da turnê de Ney de 2024, mostrando que ainda continua sendo quem ele sempre foi. Homem com H consegue mostrar a essência do artista, mesmo sem ser perfeito, o que já é muito mais do que a maioria dos filmes consegue.

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  3.5

 

SOBRE O AUTOR

Vinicius Lunas

Um rapaz simples de gosto requintado (ou não). Curto de tudo um pouco (cinema, tv, games, hq, música), bom em particularmente nada. Formado em Letras pela Universidade de São Paulo, mas desde os 14 anos formando um bom gosto musical.

 

 


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