PUBLICADO EM 22/05/2025

A Lenda de Ochi

 

A Lenda de Ochi

A Lenda de Ochi é um filme de fantasia um pouco fora dos padrões convencionais, que marca a estreia do diretor e roteirista Isaiah Saxon em longas metragens. Ele é conhecido por seus curtas metragens e videoclipes de artistas como Björk, Panda Bear e Grizzly Bear. Uma marca já registrada do diretor entretanto é mesclar lindos visuais bucólicos, técnicas de animação e uma atmosfera que viaja entre o esquisito e o lúdico. 

A trama do filme conta a história de uma jovem garota chamada Yuri (Helena Zengel) que vive num vilarejo remoto e isolado na ilha de Carpathia, Tímida e introvertida, Yuri cresceu com avisos de que nunca poderia sair após o anoitecer, criada para temer uma espécie reclusa da floresta conhecida como Ochi. Sob o estigma de serem criaturas perigosas e malignas, piores do que lobos e ursos, os Ochi são continuamente caçados pelos moradores da vila, liderados por Maxim (Willem Dafoe), pai de Yuri. Um dia, porém, Yuri esbarra com um Ochi bebê machucado e abandonado por sua matilha, e então embarca numa missão para devolver o filhote ao seu lar na floresta.

O filme não estabelece exatamente o tempo em que se passa, e isso ajuda para tentarmos embarcar na sua falta de compromisso com a realidade. É muito mais fácil relacioná-lo com clássicos de fantasia cult dos anos 80 do que qualquer coisa atual, pelo menos em termos de estética, já que a temática pode se relacionar com filmes atuais como Como Treinar o Seu Dragão e Lilo & Stitch.

E quando cito a falta de compromisso com a realidade, não é apenas na temática fantasiosa, mas na lógica interna da história. Todos os personagens são meio excêntricos, os cenários de fundo como florestas e montanhas parecem saídos de pinturas aquarela que se fundem com CGI. Podemos ver tanto um mercado super colorido e arrumado, quanto uma casa de madeira na montanha que por algum motivo parece meio fora de proporção para quem mora ali. E tudo isso é deliberado, parece uma maneira até de tentar contornar a falta de um orçamento gigantesco com escolhas criativas. É como se Wes Anderson tivesse que dirigir algum programa da TV Cultura (com o orçamento da TV Cultura).

A própria figura do Ochi é uma mistura de animatrônico, marionete e complemento em CGI, e o pequenino protagonista parece uma mesclar de Grogu de O Mandaloriano com Gizmo de Gremlins. E é o principal acerto, pois sem esse cuidado com o bichinho, toda a relação entre ele e Yuri iria por água abaixo.

O ritmo do longa é mais lento, muitas vezes apostando em cenas mais contemplativas e em suas composições. Não espere uma grande aventura cheia de percalços, o interesse maior é nos personagens e todo o clima meio etéreo e lúdico criado. Inclusive existe um teor de melancolia muito presente, acentuado pela floresta úmida, tons frios, e até nas canções escolhias, que acabam sempre contrastando com a protagonista que usa um casaco amarelo.

A relação estabelecida entre os personagens humanos é interessante, mas deixa um pouco a desejar, Zengel já de muito nova demonstra talento de sobra, e Williem Dafoe parece se divertir com seu personagem. Emily Watson parece subaproveitada apesar de ter momentos chave e Finn Wolfhard pouco tem para fazer infelizmente.

A Lenda de Ochi está longe de ser perfeito, e dificilmente vai cair nas graças de um grande público, mas consegue ter um carisma muito único, sendo estranhamente belo e lúdico, com uma mensagem bonita e sincera de pertencimento e aceitação.

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  3.5

 

SOBRE O AUTOR

Vinicius Lunas

Um rapaz simples de gosto requintado (ou não). Curto de tudo um pouco (cinema, tv, games, hq, música), bom em particularmente nada. Formado em Letras pela Universidade de São Paulo, mas desde os 14 anos formando um bom gosto musical.

 

 


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