A Lenda de Ochi é um filme de fantasia um pouco fora dos padrões convencionais, que marca a estreia do diretor e roteirista Isaiah Saxon em longas metragens. Ele é conhecido por seus curtas metragens e videoclipes de artistas como Björk, Panda Bear e Grizzly Bear. Uma marca já registrada do diretor entretanto é mesclar lindos visuais bucólicos, técnicas de animação e uma atmosfera que viaja entre o esquisito e o lúdico.
A trama do filme conta a história de uma jovem garota chamada Yuri (Helena Zengel) que vive num vilarejo remoto e isolado na ilha de Carpathia, Tímida e introvertida, Yuri cresceu com avisos de que nunca poderia sair após o anoitecer, criada para temer uma espécie reclusa da floresta conhecida como Ochi. Sob o estigma de serem criaturas perigosas e malignas, piores do que lobos e ursos, os Ochi são continuamente caçados pelos moradores da vila, liderados por Maxim (Willem Dafoe), pai de Yuri. Um dia, porém, Yuri esbarra com um Ochi bebê machucado e abandonado por sua matilha, e então embarca numa missão para devolver o filhote ao seu lar na floresta.
O filme não estabelece exatamente o tempo em que se passa, e isso ajuda para tentarmos embarcar na sua falta de compromisso com a realidade. É muito mais fácil relacioná-lo com clássicos de fantasia cult dos anos 80 do que qualquer coisa atual, pelo menos em termos de estética, já que a temática pode se relacionar com filmes atuais como Como Treinar o Seu Dragão e Lilo & Stitch.
E quando cito a falta de compromisso com a realidade, não é apenas na temática fantasiosa, mas na lógica interna da história. Todos os personagens são meio excêntricos, os cenários de fundo como florestas e montanhas parecem saídos de pinturas aquarela que se fundem com CGI. Podemos ver tanto um mercado super colorido e arrumado, quanto uma casa de madeira na montanha que por algum motivo parece meio fora de proporção para quem mora ali. E tudo isso é deliberado, parece uma maneira até de tentar contornar a falta de um orçamento gigantesco com escolhas criativas. É como se Wes Anderson tivesse que dirigir algum programa da TV Cultura (com o orçamento da TV Cultura).
A própria figura do Ochi é uma mistura de animatrônico, marionete e complemento em CGI, e o pequenino protagonista parece uma mesclar de Grogu de O Mandaloriano com Gizmo de Gremlins. E é o principal acerto, pois sem esse cuidado com o bichinho, toda a relação entre ele e Yuri iria por água abaixo.
O ritmo do longa é mais lento, muitas vezes apostando em cenas mais contemplativas e em suas composições. Não espere uma grande aventura cheia de percalços, o interesse maior é nos personagens e todo o clima meio etéreo e lúdico criado. Inclusive existe um teor de melancolia muito presente, acentuado pela floresta úmida, tons frios, e até nas canções escolhias, que acabam sempre contrastando com a protagonista que usa um casaco amarelo.
A relação estabelecida entre os personagens humanos é interessante, mas deixa um pouco a desejar, Zengel já de muito nova demonstra talento de sobra, e Williem Dafoe parece se divertir com seu personagem. Emily Watson parece subaproveitada apesar de ter momentos chave e Finn Wolfhard pouco tem para fazer infelizmente.
A Lenda de Ochi está longe de ser perfeito, e dificilmente vai cair nas graças de um grande público, mas consegue ter um carisma muito único, sendo estranhamente belo e lúdico, com uma mensagem bonita e sincera de pertencimento e aceitação.
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