PUBLICADO EM 22/05/2023

A Pequena Sereia

 

A Pequena Sereia

A animação da Pequena Sereia, lançada em 1989, foi um marco pois foi o início do chamado Ressurgimento da Disney, após passar as décadas de 70 e 80 em baixa sem nenhum lançamento grandioso. A animação trouxe um bom resultado de bilheteria e agradou a crítica, renovando o grande prestígio do estúdio, que posteriormente se consolidou com A Bela e a Fera (1991), Aladdin (1992) e O Rei Leão (1994).

Em meio a tantos remakes em live-action da Disney, que cada vez mais podem ser questionados, A Pequena Sereia de 2023 talvez possa ter novamente o papel de fazer a casa do Mickey Mouse ressurgir.

A trama do filme é basicamente a mesma da animação, que tinha como base o conto do dinamarquês Hans Christian Andersen, onde acompanhamos a sereia Ariel (Halle Bailey), fascinada pelo mundo da superfície, e que após se apaixonar pelo Príncipe Eric (Jonah Hauer-King) e entrar em conflito com seu pai, o Rei Tritão (Javier Bardem), acaba caindo nas artimanhas da bruxa do mar Úrsula (Melissa McCarthy), para se tornar humana em troca de sua bela voz.

A nova versão é dirigida por Rob Marshall, experiente diretor de musicais como Chicago, Nine, Caminhos da Floresta e O Retorno de Mary Poppins e de quebra ainda comandou Piratas do Caribe: Navegando em Águas Misteriosas, mostrando que tem familiaridade com o alto mar. E o currículo do diretor realmente faz diferença, pois as cenas no navio são boas e os números musicais são bem construídos. As novas versões das canções clássicas não deixam nada a desejar as antigas, muito pela qualidade do elenco.

Halle Bailey é uma protagonista extremamente carismática, mas é quando canta que ela realmente deixa qualquer um de queixo caído. Você sente o peso de cada palavra em Part of Your World, numa sequência que privilegia seu momento, fazendo muito bom uso da iluminação escassa, dando contornos teatrais a cena. O único defeito é quando acaba, pois depois de sua potente voz preencher todo o ambiente o silêncio em seguida é quase anticlimático. Outra ótima sequência musical é Under the See na voz de Daveed Diggs como Sebastião, que chegou a ser liberada online como uma prévia, mas não completa, e não tenha dúvidas que faz toda a diferença, pois ela vai crescendo num show visual repleto de cores, animais marinhos e vibração impossíveis de não cativar o público.

Existem músicas inéditas que são competentes, mas não chegam a ser marcantes, com exceção do dueto em rap entre Sebastião e Sabichão (Awkwafina), uma cortesia de Lin-Manuel Miranda, que acaba divertindo em um momento inusitado. O roteiro de David Magee é muito hábil em pegar a boa história que já tinha em mãos e lapidar ela, tirando coisas que funcionavam na animação, e retrabalhando outras para dar mais consistência a trama, como o romance entre Ariel e Eric. Há um contraponto entre ela querer conhecer o mundo da superfície e ser impedida por seu pai, e o príncipe querer desbravar os mares e conhecer novos lugares, mas ser reprimido por sua mãe. Existe uma ligação muito forte entre eles para além do romance clichê.

Melissa McCarthy se mostrou uma escolha extremamente acertada para ser a vilã, um total oposto de seus papéis habituais na comédia. Javier Bardem consegue passar a suntuosidade de um rei e carinho por sua filha, embora apareça pouco. A grande questão do CGI das criaturas passa pela decisão de deixar os animais realistas e não cartunescos como no desenho. O Linguado (Jacob Tremblay) é um peixe, não um peixe amarelo fofinho, mas simplesmente um peixe, assim como Sabichão é apenas uma gaivota, mas compensa com o ótimo trabalho de voz de Awkwafina, assim como Diggs como Sebastião.

A edição as vezes deixa a desejar e o grande sequência final de ação, que depende de muito CGI é bastante escura, muito mais para esconder um bonecão falso do que uma escolha artística.

Entre erros e acertos, no final o saldo é positivo para a nova versão de A Pequena Sereia, que fica entre os melhores live-actions mais recentes do estúdio, não que a concorrência fosse muito grande, mas mesmo assim, é um respiro revigorante para o público que busca se conectar através da nostalgia.

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SOBRE O AUTOR

Vinicius Lunas

Um rapaz simples de gosto requintado (ou não). Curto de tudo um pouco (cinema, tv, games, hq, música), bom em particularmente nada. Formado em Letras pela Universidade de São Paulo, mas desde os 14 anos formando um bom gosto musical.

 

 


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