PUBLICADO EM 18/10/2022

Adão Negro

 

Adão Negro

Adão Negro é o projeto dos sonhos de Dwayne “The Rock” Johnson, ele batalhou muito para que o filme saísse do papel, e do jeito que ele queria, tanto que ele além de protagonizar é também produtor. Dito isto, havia uma curiosidade de como o personagem, que é um anti-herói, seria abordado, ainda mais dado o histórico de bom moço do ator.

Na trama, quase 5.000 anos após ter sido agraciado com os poderes onipotentes dos deuses antigos – e aprisionado logo depois – Teth Adam (Dwayne Johnson) é libertado de sua tumba terrena, pronto para levar ao mundo moderno sua forma singular de justiça. Com a presença de um novo super ser, Gavião Negro (Aldis Hodge), a mando de Amanda Waller (Viola Davis), convoca uma equipe capaz de deter essa possível nova ameaça.

Não fique surpreso se você notou alguma semelhança dessa sinopse com algum outro filme da DC, no caso Esquadrão Suicida de 2016. A diferença é que o foco no caso é a “ameaça”, e que ela não foi criada pelo próprio governo (menos mal). Este é de longe o ponto mais baixo do filme, que levando em conta o histórico da DC no cinema, tem seus motivos para jogar no seguro, mas repetir a estrutura de um de seus piores filmes é quase inconcebível. Aliás quando a DC apostou em algo mais diferente, como Coringa (2019), ou O Esquadrão Suicida (2021) se saiu muito melhor.

Dwayne Johnson obviamente esbanja carisma, mas não há muito mais além dele próprio no seu personagem, e o tom de humor empregado, com ele sempre sério tentando utilizar sarcasmo, pelo menos pra mim não funciona.

A Sociedade da Justiça que é apresentada aqui, com Gavião Negro, Senhor Destino (Pierce Brosnan), Ciclone (Quintessa Swindell) e Esmaga-Átomo (Noah Centineo), é até interessante, mas acaba não tendo muito tempo de ser desenvolvida além de algumas cenas de ação e outras de alívio cômico. E isso se torna um problema lá na frente quando temos que ter algum tipo de ligação com os personagens para sentir algum peso dramático. O já citado O Esquadrão Suicida (2021) também apresentou diversos personagens num mesmo filme e se saiu muito melhor, Guardiões da Galáxia (2014) levou um grupo totalmente desconhecido ao estrelato, curiosamente (ou não) ambos os filmes são dirigidos por James Gunn.

O diretor Jaume Collet-Serra, que trabalhou com Johnson em Jungle Cruise (2021), não consegue desenvolver este aspecto humano do longa, não que fosse necessário, mas o próprio roteiro coloca isso em questão, quando maior trauma do protagonista é ter perdido sua família, e quando ele é despertado, se envolve com uma outra família, que também precisa de sua ajuda para livrar seu país, e até mesmo esse paralelo básico não é muito bem utilizado.

O diretor parece focar sua atenção nas cenas de ação, e de destruição da cidade (que eles querem salvar), algumas são bem divertidas, mas em outras o excesso de informação e de cortes rápidos dificulta a fluidez do combate. Quanto a questão de “salvar a cidade”, é até engraçado que em determinado momento a personagem vivida por Sarah Shahi, que desperta o Adão Negro, joga na cara da Sociedade da Justiça que eles só apareceram lá por seus interesses próprios, enquanto eles sofriam com o poder militar opressor nenhum herói apareceu. Qualquer paralelo com a mania dos EUA de levar a liberdade a qualquer custo a países distantes deve ser mera coincidência, e mesmo onde poderia haver alguma substância para discussão, fica apenas nessa superficialidade.

E você pode justificar o envio dessa Liga da Justiça da Série B para conter a “ameaça” extremamente poderosa, com a desculpa de que os heróis principais estariam ocupados ou que simplesmente não cederiam ao caprichos do governo, ou que o Esquadrão Suicida não daria nem pro cheiro contra o Adão Negro (não daria mesmo), mas isso cai por terra quando chegamos na cena pós-crédito, que é exatamente o que vem circulando na internet caso você não tenha conseguido fugir dos spoilers. Muitos fãs irão a loucura de felicidade, mas é inegável que os aspectos fora da tela influenciaram demais essa decisão. A não inclusão do Shazam (Zachary Levi) no filme é simplesmente um desperdiço, os dois tem literalmente a mesma origem de poder e utilizam a mesma palavra para ativá-lo.

Adão Negro tem uma longa sequencia de ação no desfecho que chega perto de ser cansativa. Está longe de ser um desastre, mas é extremamente previsível, sem se arriscar muito, com um roteiro muito raso, e nos aspectos onde poderiam haver discussões interessantes, como a moralidade do jeito que ele age, na sua forma de justiça ou no seu crescimento pessoal e aprendizado do que é ser de fato um herói, é completamente superficial.

Muito é carregado pelo carisma dos personagens e pelo que o futuro nos reserva para eles, como já é de praxe no gênero de super-heróis, mas infelizmente todo o impacto visual não consegue segurar o longa que carece de emoção.

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SOBRE O AUTOR

Vinicius Lunas

Um rapaz simples de gosto requintado (ou não). Curto de tudo um pouco (cinema, tv, games, hq, música), bom em particularmente nada. Formado em Letras pela Universidade de São Paulo, mas desde os 14 anos formando um bom gosto musical.

 

 


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