PUBLICADO EM 04/11/2024

Ainda Estou Aqui

 

Ainda Estou Aqui

Walter Salles, um dos grandes cineastas brasileiros de sua geração, está de volta com Ainda Estou Aqui, um dos filme brasileiros mais importantes pelo menos da última década, independente das suas qualidades técnicas, que não são poucas.

O longa é uma adaptação de livro autobiográfico de Marcelo Rubens Paiva. A trama se passa em 1971, durante um período de forte repressão da ditadura militar, quando Rubens Paiva (Selton Mello) é levado de casa pelos militares, obrigando a sua esposa, Eunice (Fernanda Torres), mãe de cinco filhos, a se reinventar e conviver com essa sombra pairando sobre suas vidas.

A recriação do clima dos anos 70 no Rio de Janeiro é incrível, as roupas, os carros, a música, algumas inserções de filmagens de vídeo caseiro, tudo impecável. A primeira meia hora de filme é uma delícia, acompanhando a família enorme com suas preocupações cotidianas e burguesas, idas à praia e almoços de domingo, um carinho real entre os envolvidos. Temos um pano de fundo do contexto da época com noticiários e a presença dos militares se intensificando pela cidade.

Até que temos o ponto de virada, quando Rubens é levado para interrogatório. E é de cortar o coração, não por um excesso de emoção ou violência ou qualquer coisa do tipo, mas justamente pela simplicidade e velocidade que tudo ocorre, e a postura de Rubens, muito plácida e calma, não deixando, principalmente seus filhos estranharem tanto o ocorrido. Selton Mello esbanja simpatia e está muito bem, mas é aí que é aberto espaço para Fernanda Torres brilhar.

Até então Eunice era apenas uma dona de casa, com preocupações mundanas, mas com a demora de retorno do seu marido e sua própria condução para interrogatória, tudo muda e ela se dá conta que as coisas são muito mais sérias do que ela poderia pensar. Torres é gigantesca, a uma mudança gradual de seu olhar, seu semblante, tudo feito com muita naturalidade. Depois de ficar ausente pelo menos uma semana, quando volta para casa, ela precisa lidar com tudo que ela passou, e com a dúvida do que aconteceu om seu marido, ainda desaparecido, tudo isso sem deixar seus filhos ainda mais assustados com a situação.

Como ela própria cita posteriormente no filme, a pior sensação é a de não saber exatamente o que aconteceu com seu marido, não poder dar um fim a dor, e pior de tudo, ser negada prisão dele pelo estado, como se não tivessem nada a ver com isso. Só pelo tema envolvido Ainda Estou Aqui é forte e denso, mas a condução de Salles e o roteiro de Murilo Hauser e Heitor Lorega elevam o nível de tudo.

O terço final perde um pouco da intensidade, e abre espaço para um clima mais emocional, mas nunca sendo apelativo. A cena final, que conta com a participação de Fernanda Montenegro no papel de Eunice mais velha é algo digno de nota só pela presença dela, novamente é algo simples, mas muito significativo.

Graças a distribuição da Sony Pictures, o longa tem sido amplamente apreciado em festivais e foi escolhido como representante do Brasil para tentar disputa nas indicações do Oscar, e sem sombra de dúvida, qualidades tem de sobra pra isso, mas mais importante que qualquer indicação ou prêmio, Ainda Estou Aqui merece ser visto.

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  4.5

 

SOBRE O AUTOR

Vinicius Lunas

Um rapaz simples de gosto requintado (ou não). Curto de tudo um pouco (cinema, tv, games, hq, música), bom em particularmente nada. Formado em Letras pela Universidade de São Paulo, mas desde os 14 anos formando um bom gosto musical.

 

 


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