O drama musical Annette, junta três mentes criativas muito interessantes: o diretor francês Leos Carax e os irmãos Ron Mael e Russell Mael, que formam o banda Sparks e atuam pela primeira vez como roteiristas de um longa metragem. Alguns fatores de união entre eles são a psicodelia e o experimentalismo, e qualquer um que tenha visto Holy Motors, o filme anterior de Carax, sabe muito bem do que estou falando.
A trama acompanha Henry (Adam Driver) e Ann (Marion Cotillard) um comediante desbocado e uma cantora de ópera de extremo sucesso que se apaixonam. Quando nasce Annette, a filha do casal, as coisas ficam mais complicadas.
Apesar de ser um musical, Annette passa longe de seguir as convenções do gênero. Ao invés de números musicais super elaborados, com direito a coreografia e tudo, o filme parece buscar o oposto disso. A introdução do filme é feita com a canção “So may we start?” (Então, podemos começar?), com os atores, membros da banda e o próprio diretor saindo pela rua cantando repetidas vezes o título/refrão, ao mesmo tempo que ouvimos o som de fundo da cidade, com carros passando e buzinando, por exemplo.
Parece até que estão zombando do gênero, pois a cantoria acontece nas situações mais estapafúrdias possíveis, como no meio do sexo, no parto da criança. A repetição e redundância das letras também são quase absurdas como em “We Love Each Other So Much” (Nós nos amamos muito), onde Driver e Cotillard recém apaixonados entoam a canção repetindo a frase pelo menos 14 vezes em pouco mais de 3 minutos. Chega um ponto durante as mais de duas horas de filme que isso deixa de ser uma alfinetada engraçada e fica apenas irritante.
Apesar da estranheza de várias cenas, que desafiam o telespectador desde o começo, os elementos mais absurdos com que Carax gosta de trabalhar começam a aparecer de fato após o nascimento de Annette, e isso deixa o filme no meio termo entre ser totalmente surreal ou mais pé no chão, o que pode desagradar tanto o público mais exigente ou o mais casual.
O trabalho da diretora de fotografia Caroline Champetier é muito bom e casa perfeitamente com Carax, que também tem composições de cena geniais, como na cena onde o personagem de Simon Helberg conduz a orquestra ao mesmo tempo que fala com a audiência e a câmera vai girando ao seu redor.
Cotillard e Driver estão muito bem, tanto atuando quanto cantando, ainda mais levando em conta que eles estavam cantando ao vivo no set. Mesmo com a força dos protagonistas, todas as cenas de Helberg são muito boas, e com bem menos tempo de tela sua presença é marcante.
Com uma montanha russa de emoções ao longo da exibição, Annette deixa um gosto meio amargo na boca ao final, com boas cenas isoladas e ótimas atuações, mas que falta uma substância maior.
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