Um dos maiores ícones da cultura pop ganha uma nova encarnação cercado de expectativas, seja pelo diretor extremamente competente, um dos atores mais talentosos de sua geração e a promessa de uma releitura diferente de tudo que havia sido visto até então nas telonas.
Dois anos vigiando as ruas como o Batman (Robert Pattinson), causando medo nos corações dos criminosos, acabou levando Bruce Wayne às sombras da cidade de Gotham. Com apenas alguns aliados de confiança – Alfred Pennyworth (Andy Serkis) e o Tenente James Gordon (Jeffrey Wright) – entre a rede corrupta de oficiais e figuras importantes da cidade, o solitário vigilante se estabeleceu como a personificação da vingança entre os cidadãos de Gotham.
Quando um assassino tem como alvo a elite da cidade, apresentando uma série de maquinações sádicas, uma trilha de pistas enigmáticas coloca o Maior Detetive do Mundo em uma investigação no submundo, onde ele encontra personagens como Selina Kyle / Mulher-Gato (Zoë Kravitz), Oswald Cobblepot / Pinguim (Colin Farrell), Carmine Falcone (John Turturro) e Edward Nashton / Charada (Paul Dano).
Desde o primeiro segundo em que aparece em tela, vindo calmamente das sombras, Pattinson mostra que não está de brincadeira. Desde o visual até a voz (ou em vários momentos o silêncio), tudo encaixa perfeitamente. A raiva e a amargura de um vigilante ainda em começo de carreira, que enxerga as coisas muito preto no branco (ou seria vermelho?) é muito bem utilizada, não apenas como uma glorificação da violência, mas para questionar a escolhas do personagem e mostrar uma possível evolução.
Todo o elenco de apoio de apoio é excepcional, Kravitz tem a graciosidade e a malícia da Mulher-Gato, Farrell com uma maquiagem carregadíssima está irreconhecível como Pinguim mas não menos interessante, e Dano apresenta um Charada cruel e psicopata, no melhor estilo Seven, uma das inspirações declaradas do diretor e roteirista Matt Reeves. A únicas ressalva é Alfred, não por conta de Serkis, mas pelo roteiro que não dá muito espaço para ele se destacar
Além de Seven, outras inspirações de Reeves são Taxi Driver e filmes noir num geral, com direito até narração em off, que neste caso é utilizada com moderação e de forma a enriquecer a narrativa, e não jogá-la pra baixo. Ajudado a compor a Gotham cheia de escuridão e neon a trilha sonora composta por Michael Giacchino, que se confunde com a marcha fúnebre é impecável.
Mesmo com tantos personagens que o orbitam, o Batman é o centro de tudo, e não só o Batman em si, mas Bruce Wayne, com seu passado e seu legado. Sua trajetória é explorada e repassada sem precisar recorrer a flashbacks. Reeves mostra que é possível dizer muito mais com uma encarada do protagonista para um jovem desamparado, do que repetir a cena do beco mostrando a morte de sus pais.
Toda a parte da investigação e da máfia é muito bem conduzida e te deixa sempre atento com cada nova descoberta e os rumos que a trama toma. E novamente, todos os personagens se encaixam perfeitamente na cocha de retalhos criada, ninguém fica sobrando.
As cenas de ação são bem cruas e pontuais, e bastante impactantes pela violência, mesmo sem mostrar quase nenhum sangue. A grande perseguição de carro, mostrada parcialmente nos trailers é muito arriscada, pelos ângulos escolhidos, a movimentação, iluminação e somado a isso tudo a chuva caindo “atrapalhando” a visão, e mesmo assim é impossível não ficar impressionado.
As 3h horas de filme passam quase batidas dada a imersão provocada nesta cidade, e mais do que isso nos seus personagens. E se algum dia for lançada alguma versão estendida com 4h ou mais, não será problema nenhum.
Batman de 2022 inaugura uma nova era para o personagem, que tem bastante pé no chão e ao mesmo tempo acena para várias fases importante nos quadrinhos e seus aspectos mais fantasiosos, com pequenos fan-services aqui e acolá, sem se deixar levar apenas para agradar os fãs, mas contando uma história sólida, que respeita o seu material de inspiração ao mesmo tempo que conversa com os dias atuais, mergulhando no personagem e questionando, o que é realmente ser um herói.
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