Coringa, filme de 2019, foi um grande sucesso e celebrado pela atuação de Joaquin Phoenix, mas é necessário dizer que este vos escreve não é um grande entusiasta da produção. Existem muitos elementos que referenciam a Taxi Driver (1976) e principalmente a O Rei da Comédia (1982), mas de uma forma ao meu ver muito pedante. Acho relevante dizer isso pois talvez eu esteja indo contra a maré, tanto em relação ao primeiro filme quanto ao segundo.
Em Coringa: Delírio a Dois encontramos Arthur Fleck (Phoenix) institucionalizado em Arkham, à espera de ser julgado pelos seus crimes. Enquanto tenta entender se existe uma dupla personalidade ou não dentro de si, Arthur não só encontra o amor verdadeiro, mas também a música que sempre esteve dentro dele.
Por mais que o marketing tente esconder a sequência é um musical, e esta decisão do diretor Todd Phillips é no mínimo curiosa, e ao meu ver até ousada, mesmo que o primeiro filme tenha relances disso, já que duas das cenas mais icônicas do primeiro filme sejam a da dança no banheiro e na escada. Não vou entrar no mérito do marketing, já que existe uma barreira do público geral com o gênero, a grande questão ao meu ver, é que parece que o diretor não quis entrar de cabeça neste universo. Ele faz um musical, com vergonha de ser um musical.
Por mais que na maioria das vezes as coisas estejam acontecendo apenas na cabeça de Arthur, não temos um grande número a nossa disposição, um espetáculo musical propriamente dito. Existem boas cenas, em que Phoenix solta a voz, e a cada vez que sua relação com Lee (Lady Gaga) vai se aprofundando, esses momentos ficam mais elaborados, mas tudo fica meio morno, sem sal. Eles interpretam grandes músicas consagradas, prestando homenagem a clássicos do gênero musical, mas nunca entregam de fato todo esse potencial.
A relação de Arthur com Lee e a maneira como ele começa a enxergar o mundo e se entregar ao seus delírios musicais ao lado dela, o tornam muito mais humano do que qualquer construção feita no primeiro filme. A esperança de uma amor verdadeiro tem a capacidade de mudar a vida de qualquer um, até mesmo de um desequilibrado como ele. Mas Arthur não coringou a toa e desgraça pouca é bobagem, então é claro que um desfecho feliz é improvável, ainda mais para um diretor que insiste em ficar com o pé no chão a todo o momento.
Do meio pro final temos um filme de tribunal, com a defesa de Arthur tentando provar que o Coringa é uma personalidade a parte de Arthur, e logo ele teria que ser internado e tratado, e não preso e ou condenado a morte pelos 5 assassinatos cometidos. A relação de Arthur com essa afirmação é ambígua, pois caso consiga provar isso ele estará “livre”, mas ao mesmo tempo, toda a fama a atenção que ele conquistou foi devido a esse feito, ao Coringa, e deixar isso de lado seria deixar toda atenção que ele sempre sonhou para trás.
O fato de o nome Wayne, sequer ser mencionado neste filme só mostra o quão idiota e estupida era a ideia da ligação dele com a família do Batman no primeiro filme, e o quanto ele joga fora muito dessa construção na continuação. Em vários aspectos essa desconstrução acontece, e não dá pra saber se isso é algo que partiu da vontade do próprio diretor ou se ele absorveu algumas críticas ao primeiro filme e tentou erguer uma bandeira da paz, mostrando ai também um falta de personalidade sem tamanho.
Falando mais especificamente sobre a Arlequina, ela acaba sendo um personagem acessório, que motiva e injeta interesse em Arthur, mas mesmo com uma boa atuação de Gaga, fica ali sem muito aprofundamento, como basicamente todos os personagens coadjuvantes.
De qualquer forma, Delírio a Dois é mais audacioso em seu formato, e particularmente me agradou mais, mesmo sendo péssimo exemplo de como um tribunal sério funciona. Mas esse deve ser aquele tipo de filme, ame ou odeie, portanto, a melhor solução, como sempre, é ir conferir com seus próprios olhos.
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