Há quem diga que todo o MCU do jeito que conhecemos foi uma grande aposta, já que sem ter os diretos de seus grandes personagens como Homem-Aranha e X-Men a Marvel Studios teve que lançar um de seus personagens de segundo escalação como Homem de Ferro em 2008. Mas um gênio, bilionário, playboy e filantropo com uma armadura tecnológica não parece nem um pouco arriscado se comparado com o que veio um pouco depois em 2014, com a chegada de Guardiões da Galáxia, um grupo meio obscuro até pra quem já era familiarizado com os quadrinhos da editora, que contava simplesmente com um guaxinim e uma árvore falantes. Essa foi a real aposta da Marvel, pois se algo tão bizarro conseguisse funcionar com o grande público, eles conseguiriam emplacar qualquer coisa.
Mas se esse grupo desajustado funcionou é por conta de alguém em especial: James Gunn. Ele entendeu como ninguém os personagens, os transformou realmente numa espécie de família, cheia de peculiaridades e estilo. Desde o primeiro filme ele conseguiu nos emocionar com uma árvore que só conseguia falar três palavras, e numa ordem específica. E tudo que ele construiu ao longo dos seus dois filmes e do especial de Natal desemboca neste terceiro capítulo. Tudo aqui é mais intenso, a ação, o drama, até o humor. Chegamos de fato ao ápice dessa ópera espacial, orquestrada por um cara muito maluco, mas que tem o coração no lugar certo.
Na trama do filme os Guardiões estão se estabelecendo em Luganenhum, mas não demora muito para que suas vidas sejam viradas de cabeça para baixo por ecos do passado turbulento de Rocket (voz de Bradley Cooper). Peter Quill (Chris Pratt), ainda cambaleando por causa da perda de Gamora (Zoë Saldaña), precisa reunir sua equipe em uma missão perigosa para salvar a vida de Rocket — uma missão que, se não for bem-sucedida, pode levar ao fim dos Guardiões como os conhecemos.
É sempre difícil trabalhar com muitos personagens e fazer eles funcionarem e serem relevantes, mas Gunn já tinha mostrado uma capacidade incrível de fazer isso acontecer nos dois filmes anteriores e também em O Esquadrão Suicida (2021). É preciso dar momentos para cada um mostrar seu valor, mas o real segredo é realmente saber qual deles será o foco principal e conduzirá a narrativa principal. É preciso saber que é uma batalha perdida querer que todos tenham um desenvolvimento e aprofundamento absurdo, é melhor focar em um ou dois para brilhar e deixar o restante como apoio esperando sua vez de brilhar. E ninguém pode roubar o brilho de Rocket desta vez, nós finalmente conhecemos sua história de origem, nos sendo mostrada ao longo do filme através de flashbacks, e são de cortar o coração.
Quem acompanha a equipe desde o começo e também suas ótimas participações em Guerra Infinita e Ultimato com certeza vai ficar de coração apertado em diversos momentos. Mesmo ainda sendo um filme de super-heróis, com piadas bobas e com bastante ação, este é sem dúvida o filme mais intenso emocionalmente falando. Se no Volume 2 o belíssimo desfecho de Yondu nos destrói, aqui nos ficamos com um mal presságio o filme todo, sempre esperando o pior e torcendo para o melhor. Este é de fato o desfecho deste grupo, como foi divulgado amplamente no material promocional, mas quando chega a hora você não quer se despedir, é como ver seus amigos indo embora.
Falando sobre o tom de humor, algo bastante controverso também no filme anterior que parecia ter pesado a mão em diversos momentos, aqui há um equilíbrio muito melhor entre as cenas sérias e a comédia, que funciona pelo menos 95% das vezes, contando novamente com diálogos impagáveis. Já no que diz respeito a ação é preciso dizer que temos simplesmente uma das melhores cenas do gênero já feitas num filme de equipe, sem nenhum exagero. O que acontece no corredor daquela nave é simplesmente indescritível em palavras.
A trilha sonora com músicas escolhidas a dedo por Gunn, que já uma marca registrada da franquia, está novamente afiadíssima, e não só com sucessos mais antigos mas músicas mais recentes também, e a grande diferença dos Guardiões pra outros filmes que tentam replicar esse conceito, mas sem sucesso diga-se de passagem, é que o diretor e roteirista muitas vez escolhe primeiro a música pra depois elaborar as cenas, é algo quase orgânico como em alguns momentos ela se incorpora a cena e reflete os sentimentos dos personagens, e nunca é demais elogiar o bom gosto dele, pois suas escolhas estão longe de serem óbvias.
O Alto Evolucionário é um vilão bem construído mas não chega a ser memorável com uma atuação de Chukwudi Iwuji bastante intensa, por vezes até meio afetada, mas que combina com a proposta. A outra adição mais significativa ao elenco seria de de Will Poulter como Adam Warlock, que meio que aparece só quando é conveniente para o roteiro, e muitas vezes como um alívio cômico desnecessário, é um dos pontos baixos do filme, pois sua presença aqui é meio descartável e parece ser mais relevante pro futuro do MCU do que qualquer outra coisa. É preciso ser dito também que essa é a melhor atuação de Chris Pratt como Senhor da Estrelas, ele sempre teve um ar meio canastrão, mas aqui ele entrega ótimos momentos dramáticos sem soar forçado.
Aliás um dos trunfos do longa é ser focado apenas na sua equipe, e não se deixar levar pelo grande arco do multiverso que está sendo construído ao longo dessa fase quatro. Não há dúvidas que vários desses personagens vão aparecer para enfrentar Kang num próximo Vingadores, mas o que importa aqui é dar um desfecho digno pra essa história que vem sendo construída desde o primeiro filme. Inclusive até as duas cenas pós créditos também são totalmente relacionadas ao universo dos Guardiões.
Guardiões da Galáxia Volume 3 é capaz de fazer o público gargalhar, ir as lágrimas, se empolgar, vibrar e consolida provavelmente a melhor trilogia do MCU até agora, Não é apenas o melhor filme dos Guardiões, nem o apenas o melhor da fase 4, mas é fácil um dos melhores da Marvel como um todo e do gênero de super-heróis.
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