PUBLICADO EM 12/05/2025

Manas

 

Manas

Manas é o novo filme de Marianna Brennand, conhecida por seu trabalhos documentais, que abocanhou diversos prêmios pelo mundo afora, incluindo mostras paralelas do Festival de Veneza 2024 e no Festival de Cannes 2025. 

Na trama do longa acompanhamos Marcielle (Jamilli Correa), uma jovem de 13 anos que vive em uma comunidade ribeirinha na Ilha do Marajó (PA) com o pai (Rômulo Braga), a mãe (Fátima Macedo) e três irmãos. Instigada pelas falas da mãe, ela cultua a imagem de Claudinha, sua irmã mais velha, que teria partido para bem longe após “arrumar um homem bom” nas balsas que passam pela região. Conforme amadurece, Tielle vê ruírem muitas das suas idealizações e se percebe presa entre dois ambientes abusivos. Ciente de que o futuro não lhe reserva muitas opções, ela decide confrontar a engrenagem violenta que rege a sua família e as mulheres da sua comunidade.

Brennand usa sua experiência com documentários para criar uma história ficcional baseada em diversos casos reais que acontecem com garotas anônimas. A fotografia e direção também se assemelham muito a um documentário, como se estivéssemos acompanhando uma família real, e isso torna a experiência ainda mais visceral e desconfortável.

Mesmo tratando de um tema pesado, Brennand tem uma delicadeza ao saber exatamente o que mostrar e o que não mostrar, para não tornar tudo ainda mais desconfortável, mas também porque aquilo é que é omitido muitas vezes causa mais impacto do que o que é visto. Inclusive a cena onde Marcielle vai caçar pela primeira vez com seu pai e o corte seco da cena acontece no momento do tiro é que um impacto impossível de se descrever em palavras.

Todo o elenco é fantástico, começando por Jamilli Correa que carrega um peso enorme nas costas sendo a protagonista do filme e em nenhum momento decepciona. Rômulo Braga, que inclusive pode ser visto recentemente em Homem com H, entrega outra ótima atuação. Dira Paes não tem tanto tempo de tela, mas quando aparece preenche o espaço de forma única, seja pela doçura no trato com Marcielle ou altivez que encara os pais da garota.

Também não posso deixar de citar Fátima Macedo, que na minha opinião tem o papel mais complexo. Como mãe e mulher, ela devia entender melhor e proteger sua filha, e é nítido o conflito dentro dela entre fazer a coisa certa ou saber que existem problemas estruturais tão grandes que não faz diferença sua ação individual. Existe ali amargura, ressentimento, medo, e até uma gratidão genuína por quem lhe acolheu anteriormente, o que óbvio não justifica sua falta de ação, mas ajuda a montar esse complexo quebra cabeça psicológico.

Os únicos poréns que podem ser apontados é a participação do irmão mais velho de Marcielle, que basicamente não tem falas e não exerce nenhuma função narrativa de fato, e a presença da religião que parece estar lá apenas para mostrar o quão hipócrita o comunidade é no geral, mas isso já fica claro de outras maneiras.

Manas é em alguns momentos revoltante, pois todos parecem saber e ser coniventes com o que acontece e não são capazes de agir ou sequer tentar mudar. As coisas são como são e vão continuar sendo assim, não importa o quão ruim sejam. Quem sabe o próprio filme ajude a abrir mais olhos.

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  4.5

 

SOBRE O AUTOR

Vinicius Lunas

Um rapaz simples de gosto requintado (ou não). Curto de tudo um pouco (cinema, tv, games, hq, música), bom em particularmente nada. Formado em Letras pela Universidade de São Paulo, mas desde os 14 anos formando um bom gosto musical.

 

 


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