Milton Nascimento é um dos maiores artista brasileiros de todos os tempos, e dentro de uma cultura tão rica ele conseguiu ser único, seja por sua voz, jeito de cantar ou composições, que sempre trazem algo muito especial.
O documentário dirigido por Flávia Moraes acompanha a turnê de despedida de Milton Nascimento. Filmado ao longo de dois anos, o longa registra os últimos shows de “Bituca”, como é carinhosamente conhecido, e captura a profunda conexão entre o artista e seus fãs.
Logo de princípio percebemos que há um grande problema de foco no filme. A grande turnê de despedida que passa pela Europa, EUA e finalmente no Brasil, é entrecortada com depoimentos de pessoas ilustres, como Chico Buarque, Gilberto Gil, João Bosco, Caetano Veloso, além de Herbie Hancock, Pat Metheny, Quincy Jones e uma até uma breve participação de Spike Lee. A questão é que esses depoimentos ficam tentando desvendar toda uma mística criada em torno da figura de Milton, e toda hora os estrangeiros ficam comparando Milton com grandes nomes do jazz.
Parece que toda hora é preciso uma validação de grandes nomes da música americana para demonstrar como Milton era gigante. É repetido mais de uma vez que eles não entendem uma palavra de português, e mesmo assim conseguem sentir o quanto sua música e melodia os tocam profundamente. Acaba sendo algo totalmente desnecessário, e parece ser feito apenas pra “gringo ver”, como se tentasse apresentar e explicar quem é Milton para alguém não brasileiro.
O documentário é narrador por ninguém menos que Fernanda Montenegro, o que é incrível, mas o texto proposto muitas vezes é redundante ou um pouco piegas. Ao invés de aproveitar o próprio Milton e cenas de bastidores da turnê, o documentário fica dando voltas em torno dessa mística criada em torno do artista e por algum motivo tentando explicá-lo, só pra no fim concluir que não há explicação nenhuma, e que seu talento é transcendental.
Quando vemos Milton em cena e no palco é algo sublime, mesmo com seus 80 anos e dificuldades de locomoção, sua vivacidade e talento são hipnotizantes. Percebemos que ele está feliz de estar ali e de poder ter esse momento grandioso de despedida com o público e fazendo o que mais amou sua vida toda. E poder ter a chance de homenageá-lo ainda em vida é algo muito bonito, mas faltou justamente aproveitar esse lado mais humano do artista.
Entre idas e vindas, as vezes aleatórias, falando sobre sua trajetória desde o início da carreira, a turnê final e alguns momentos marcantes entre tudo isso, o documentário se perde em sua proposta inicial e acaba tentando abocanhar muita coisa em pouco tempo. Em meio a tantas imagens lindas e depoimentos interessantes a montagem não conseguiu dar estrutura e foco ao projeto. Milton é grande demais para isso que foi apresentado.
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