Não! Não Olhe! aguardado novo filme do cineasta Jordan Peele, que desde Corra! (2017) e depois em Nós (2019), vem revolucionando o gênero conhecido como pós-terror, chega com o que há de melhor em seu cinema, explorando novos temas, e de forma mais grandiosa.
Na trama, O. J. (Daniel Kaluuya) e Emerald (Keke Palmer) assumem o negócio de adestradores de cavalos para cinema após o morte de seu pai (Keith David). Mas as coisas começam a se complicar quando situações estranhas começam a acontecer em seu rancho no interior da Califórnia.
Assim como nos filmes anteriores de Peele, os comentários sobre questões raciais estão presentes e dessa vez falando da própria indústria cinematográfica, ao abordar o que é considerado o primeiro filme da história, o “O Cavalo em Movimento“, onde vemos um jóquei negro montando um cavalo se repetindo em looping.
E talvez esse seja o filme do diretor mais sútil neste aspecto, o começo principalmente, depois o teor mais épico e apoteótico acaba tomando conta acima dessas questões, o que talvez seja um demérito para alguns.
Este é o típico filme que quanto menos você souber melhor, inclusive é aconselhável evitar o trailer final, pois muitas vezes na ânsia de promover o produto a experiência acaba sendo prejudicada. E não que exista grandes revelações sobre a possível ameaça, mas toda a construção de suspense misturada com terror é feita de forma tão satisfatória por Peele, que vale a pena chegar as escuras no longa.
Também é possível ver uma evolução entre as transições de gênero do cineasta, que mistura suspense, terror, comédia, ficção científica e até uma pitada de faroeste com maestria, com um destaque para as piadas, que são mais difíceis de encaixar num filme mais sombrio, mas que funcionam pelo menos 90% das vezes.
Daniel Kaluuya, indicado ao Oscar por Corra, e vencedor do prêmio por Judas e o Messias Negro (2021), tem uma atuação mais contida, lembrando mais sua primeira parceria com o diretor, mas sem ser tão exigido dramaticamente. Keke Palmer traz um ótimo contraponto interpretando sua irmã, bem mais expansiva e comunicativa. Steven Yeun por sua vez interpreta o enigmático Ricky ‘Jupe’ Park, com um background realmente interessante, e que até poderia ter sido mais explorado.
Peele não está nem um pouco interessado em tentar explicar demais sobre a ameaça, mas sim como pessoas comuns se comportariam diante de uma situação tão extrema, e a resposta não poderia ser mais honesta possível.
A experiência em IMAX de fato acrescenta bastante ao longa, que tem uma trabalho de som incrível, e imagens abertas no deserto que te fazem imergir naquela paisagem. Existem muitas cenas de noite, mas em nenhum momento isso dificulta o entendimento do que está acontecendo ou é usado de muleta para esconder algo, Peele tem controle total do que mostrar e quando mostrar.
Não! Não Olhe! acaba sendo inesperadamente grandioso partindo de um ponto tão pequeno e comum, mostrando uma versatilidade de Peele muita bem-vinda.
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