No Ritmo do Coração, filme originalmente chamado CODA, sigla em inglês de “child of deaf adults” (filho de adultos surdos), conta a história de Ruby (Emilia Jones), a única pessoa que não é surda em sua família. Ao mesmo tempo em que enfrenta os dilemas da adolescência e a responsabilidade de ser a intérprete nos negócios da família, Ruby descobre seu talento musical, que pode levá-la a faculdade mas afastá-la de seus entes queridos.
Após ler a sinopse é fácil pensar que o longa possa ser apenas um drama meloso de superação, mas o seu grande trunfo é justamente não apelar para esta vertente. A diretora Siân Heder que dirigiu e adaptou o roteiro a partir do original francês A Família Bélier, de 2014, consegue dar um clima muito divertido ao filme.
Existem momentos de interação de Ruby com seus pais (Troy Kotsur e Marlee Matlin) e seu irmão (Daniel Durant) que são hilários. É incrível perceber como piadas escatológicas bem feitas podem funcionar tão bem, mesmo em língua de sinais. Essa interação gera uma simpatia imediata pelos personagens, que convencem que são de fato uma família, e por sua vez essa ligação é extremamente efetiva quando os momentos de comoção surgem.
Emilia Jones faz um trabalho muito bom, e corresponde a exigência do protagonismo, sem falar que ela de fato canta muito bem. A música tem um papel fundamental para a trama, e não é apenas usada como acessório. Os três momentos mais bonitos do filme envolvem apresentações musicais, e são bons não apenas pela qualidade vocal, mas pela forma inteligente que são apresentados. Uma delas tem um impacto tão profundo quanto uma passagem de O Som do Silêncio, mas fisga o expectador pela ligação entre os personagens, acima de tudo.
Outro aspecto que deve ser ressaltado é que o filme trata a surdez de forma muito digna, não sendo capacitista, inclusive abordando isso diretamente. E como uma curiosidade, uma das condições da produção do longa era que atores surdos fossem contratados, mostrando não ter um discurso vazio.
Apesar de tudo, No Ritmo do Coração tem sua cota de clichês, com momentos de ruptura e dificuldades entre pais e filha e segue uma estrutura bastante convencional, mas ele consegue ser tão sincero em todos os seus aspectos, que é possível facilmente passar por cima disso e aproveitar aquela história que cativa a audiência.
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