Quantas partidas de xadrez você já parou pra assistir na vida? A resposta da grande maioria das pessoas será nenhuma, mas isso vai mudar após O Gambito da Rainha, nova minissérie da Netflix.
A trama se passa entre os anos 50 e 60 nos EUA e acompanha Elizabeth Harmon (Isla Johnston criança, depois Anya Taylor-Joy) que após ficar órfã, vai para um internato à espera de adoção. Lá ela mantém uma rotina rigorosa e começa a desenvolver uma dependência por calmantes, mas é também onde conhece Sr. Shaibel (Bill Camp) o zelador da instituição, que meio a contragosto no principio, lhe ensina a jogar xadrez.
Harmon, que já havia mostrado uma grande aptidão em matemática, aprimora rapidamente suas habilidades no jogo, graças ao seu raciocínio lógico e rápido. Toda essa primeira parte da história é contada no primeiro episódio e você é fisgado completamente. Antes de contar a história de uma prodígio do xadrez, é desenvolvido uma personagem muito humana, com seus traumas e problemas.
Conforme nossa protagonista cresce, ela vai tendo que se descobrir como pessoa e como mulher numa sociedade machista, além de lidar com a fama e o abuso de drogas e álcool. E tudo isso em meio a partidas e campeonatos de xadrez. Muitas partidas de xadrez. E contra todas as expectativas, é algo que chega a ser emocionante.
O grande responsável por isso é Scott Frank, roteirista de filmes como Minority Report (2002), Logan (2017) e criador e diretor da ótima minissérie Godless (2017), também da Netflix. Ele explica o básico do jogo e aprendemos junto com a protagonista, mas depois disso ele não subestima o expectador e sai usando termos e movimentos de xadrez como Defesa Siciliana ou o próprio Gambito da Rainha (ou Dama) que dá nome a série.
Frank tem um arsenal de ideia pra mostrar diferentes jogos sem ser chato. As edições são dinâmicas, as vezes nem vemos o tabuleiro, o foco fica apenas no rosto dos personagens mostrando toda raiva, angústia ou dúvida em seus rostos. As vezes vemos as partidas através das narrações dos torneios, ou pelas pessoas que replicam os jogos nos murais. Sem falar nos momentos (que não são poucos) quando Beth está chapada e isso ajuda ela a visualizar os jogos em sua mente e refletidos no teto.
A série também utiliza muito bem o contexto histórico da Guerra Fria para mostrar o embate entre os EUA e a Rússia, que detém os principais enxadristas da época.
A atuação de Taylor-Joy é excepcional, ela passa o ar de alguém deslocada quando muda para a nova escola e entra nos torneios com a presença majoritária de homens e aos poucos vai ganhando a confiança e uma certa arrogância conforme vai subindo seu nível. É possível ver a raiva e frustação em seu olhar ao perder uma partida.
Ao fim, O Gambito da Rainha tem um ótima história, de drama e descobertas, que prende e empolga, causando quase o mesmo efeito de quando erámos crianças e víamos Karatê Kid, que ao terminar, a única coisa que você quer fazer é dar golpes e testar o Chute da Garça, mas nesse caso com você vai tentar dar o Xeque do Pastor em alguém.
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