PUBLICADO EM 19/07/2023

Oppenheimer

 

Oppenheimer

Christopher Nolan já tem carreira consolidada em Hollywood, tanto com blockbusters como em filmes mais autorais, e em Oppenheimer, sua nova ousada, e porque não dizer megalomaníaca, empreitada nas telonas, ele tenta juntar essas duas coisas.

Na trama, acompanhamos J. Robert Oppenheimer (Cillian Murphy), desde quando era um estudante de física, até ser o cabeça por trás do Projeto Manhattan, responsável por criar a Bomba Atômica usada na Segunda Guerra Mundial. O roteiro, que também é escrito por Nolan, se inspira no livro American Prometheus: The Triumph and Tragedy of J. Robert Oppenheimer, dos autores Kai Bird e Martin Sherwin.

Fica claro que Nolan é fascinado pelo tema, essa é uma de suas maiores qualidades, mas também pode ser apontado como um defeito, já que o filme é extenso, batendo suas três horas de duração, e mesmo assim em diversos momentos ele parece corrido. Na ânsia de querer colocar tudo que podia em tela, várias passagens, principalmente de sua juventude, são muito aceleradas.

A montagem nesse sentido não ajuda muito, pois vai intercalando cenas mais no futuro, onde vemos Oppenheimer ser julgado por suas ações. Assim como em Tenet (2020), na busca por fazer algo mais elaborado, Nolan acaba deixando seu filme apenas desnecessariamente mais confuso do que precisaria.

O trabalho sonoro é muito interessante, e é uma das partes que faz total diferença ter a experiência no cinema, pois é possível sentir a vibração de cada estrondo que aparece em tela. O som é usado também para criar uma tensão ao longo da narrativa, que vai numa crescente, mas falta um cuidado maior para fazer essa crescente ser mais natural. Por vezes ele parece querer a todo custo que fiquemos impactados, e joga a trilha sonora no talo, quase como se fosse um jump scare dramático.

Indiscutivelmente a atuação de Cillian Murphy salta aos olhos. Ele consegue transmitir uma carga emocional muito intensa com sutileza, muito mais até do que o próprio roteiro poderia sugerir. Robert Downey Jr. faz um contraponto muito interessante ao protagonista, também com uma ótima atuação. Emily Blunt, que interpreta a esposa de Oppenheimer, tem momentos cruciais, mas poderia ter tido mais espaço. Fora isso, o filme tem um desfile de atores que entram e saem as vezes sem nem serem notados ou com funções muito específicas, como apertar um botão.

A grande cena do filme, que trata do teste final da bomba, é de fato primorosa. Toda a dramaticidade que o Nolan quase que nos impõem ao longo do filme aqui é bem construída e no lugar de muito barulho, um silêncio sepulcral toda conta. Um silêncio muito mais significativo do que qualquer palavra. Existe uma beleza sádica em como a explosão é mostrada.

O terço final pode ser prejudicado pelo cansaço das três horas de filme e por arquitetar o ponto de virada como se fosse uma grande revelação, mas que não é. Primeiro por ser baseado em fatos, mas mesmo quem está tendo seu primeiro contato com a história já saca logo de cara o responsável por tentar fazer a caveira do Oppenheimer.

Nolan muitas vezes tem dificuldades em criar vínculos afetivos em seus filmes, tirando talvez Interestelar (2014), e aqui isso não é muito diferente, mas pelo menos se encaixa melhor com a personalidade do cientista que é brilhante, mas que vive envolto em sua névoa de arrogância, e depois o peso na consciência. Em nenhum momento ele é pintado como grande mártir, ou herói incompreendido, este é um relato bastante cru por trás do homem que mudou o jeito como encaramos o mundo.

Para o bem e para o mal, este é um filme com a assinatura de Nolan, grandioso, ambicioso, capaz de encher os olhos, e mas que também cansa e pode gerar um grande vazio no público.

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  3.5

 

SOBRE O AUTOR

Vinicius Lunas

Um rapaz simples de gosto requintado (ou não). Curto de tudo um pouco (cinema, tv, games, hq, música), bom em particularmente nada. Formado em Letras pela Universidade de São Paulo, mas desde os 14 anos formando um bom gosto musical.

 

 


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