PUBLICADO EM 22/01/2024

Pobres Criaturas

 

Pobres Criaturas

O diretor grego Yorgos Lanthimos sempre abraçou um estilo de cinema não muito convencional, ele busca discutir temas e sentimentos de forma abstrata, lúdica e por vezes inconveniente.

Em Pobres Criaturas, que tem roteiro de Tony McNamara, adaptando o livro de Alasdair Gray, acompanhamos Bella Baxter (Emma Stone), que morre, mas é ressuscitada graças aos experimentos de um brilhante – e bizarro – cientista (Willem Dafoe). Com um novo cérebro ela precisa aprender e se desenvolver novamente, mas as coisas mudam drasticamente quando o advogado Duncan Wedderburn (Mark Ruffalo) a leva numa aventura para conhecer o mundo.

Partindo do mito do Frankenstein, que não é nenhuma novidade, temos uma grande obra de discute liberdade, ética, a posição da mulher na nossa sociedade, sexo, e a capacidade das pessoas de mudarem, evoluírem e serem melhores. Tudo isso é feito de forma muito clara e apesar da profundidade, com momentos leves e muito engraçados.

O parte inicial do filme é em preto e branco, e só ganhar cores quando Bella sai de sua casa e ganha o mundo, achando estar finalmente livre. Mas as cores são propositalmente super saturadas, e há toda uma estética steampunk que deixa tudo num tom lúdico e meio estranho, num bom sentido. Outro elemento, que já é uma marca registrada do diretor, é a lente olho de peixe, que as vezes acentua ainda mais a estranheza.

A trilha sonora navega entre arranjos meio desconfortáveis, que crescem em momentos dramáticos e também, como no final, desaguam em belíssimas composições grandiosas que chegam a dar um toque épico ao desfecho.

Lanthimos não tem receio de falar sobre e mostrar o sexo, uma das principais chaves de mudança da personagem, embora não seja a única. A descoberta de sua sexualidade e como todos a sua volta reagem a isso é um dos focos principais do longa, em momentos tentado se aproveitar e em outros sendo moralistas.

Emma Stone está fantástica, tendo uma personagem extremamente carismática, divertida e complexa. Dafoe é sempre incrível, mesmo tendo uma participação reduzida depois do trecho inicial e Ruffalo faz uma ótima caricatura, transitando entre o galanteador ordinário e o babaca completo. O personagem de Rami Youssef acaba ficando apagado, embora seja funcional.

Pobres Criaturas é como se fosse um conto de fadas sobre a revolução sexual feminina, com toques de humor ácido e bizarrices, emoldurado num belíssimo quadro cheio de cores e sentimentos, onde a jornada de descobrimento e aceitação é a única coisa que interessa.

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SOBRE O AUTOR

Vinicius Lunas

Um rapaz simples de gosto requintado (ou não). Curto de tudo um pouco (cinema, tv, games, hq, música), bom em particularmente nada. Formado em Letras pela Universidade de São Paulo, mas desde os 14 anos formando um bom gosto musical.

 

 


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