O livro “Tarsila”, por Maria Adelaide Amaral, é escrito em formato de peça teatral, tornando a leitura extremamente dinâmica. É o tipo de obra que lemos em uma tarde ensolarada, com o coração aquecido devido às palavras escolhidas pela autora, e não pelo ambiente em si. Se o leitor é um amante do modernismo, sobretudo dos artistas influentes da semana de 1922, é capaz de se sentir ainda mais próximo dos personagens e dos acontecimentos.
De forma geral, sabe-se que Mário era gay (ou pederasta, pedê, como assim chamavam), que Anita havia sido humilhada por Monteiro Lobato em 1917, que Oswald não era o homem mais fiel de todos… Todavia não temos noção da degradação que cada um dos fatos acarretou ao momento – na verdade até o fim da vida de cada um deles. Tarsila, a princípio, de acordo com a peça, desconhece de qualquer técnica de pintura, por mais que carregando uma pesada mala cheia de tintas coloridas. É seu contato com os outros integrantes do tal grupo que desenvolve o que antes já era tido como seu dom.
Ao desenrolar da peça, fielmente seguindo a ordem dos fatos de sua vida, já que a autora de fato conversou até com membros da família Amaral, percebemos que um “belo” relacionamento entre Tarsila e Oswald viria a florescer – o adjetivo estar entre aspas é um indício de que você deve ler ao livro para entender. Além disso, a história gira em torno de Mário de Andrade, Oswald de Andrada, Anita Malfatti e, claro, Tarsila do Amaral, citando alguns parentes da artista e seus outros amores mundanos, tudo como uma forma de desenhar realisticamente os seus 86 anos de vida.
O que é mais adorável de observar em um livro biográfico é a maneira que aquele que está sendo retratado lida com os altos e baixos de sua vida. Críticas ao movimento modernista, crise de 1929, tristezas no meio familiar, e, mesmo assim, Tarsila ainda insiste em dizer que sua real vocação era a de ser imensamente feliz.
Resumidamente, a peça fala sobre amor, aquilo que é ridículo e interessante, segundo Oswald de Andrade; arte, a maneira mais bela de se refugiar; e felicidade. Logo ao final do livro, beirando a terceira idade da exuberante artista, Tarsila retruca a Oswald, entristecido e pobre: “o que tinha de melhor era a disposição para ser feliz! Acho que isso era tão notável que Deus resolveu me testar para ver se essa minha vocação para a felicidade era mesmo forte…”
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