Anora, novo filme do diretor e roteirista Sean Baker, teve grande repercussão desde sua estreia no Festival Internacional de Cinema de Cannes 2024, onde inclusive ganhou o prêmio de Melhor Direção, e vem fazendo um ótimo circuito nos festivais desde então, tendo sido indicado também em 5 categorias no Globo de Ouro.
Baker tem um característica muito marcante em seus filmes, que é a de conseguir contar histórias de pessoas comuns, geralmente a margem da sociedade, de maneira casual, mas muito delicada, sem juízo de valores e com um humor pontual.
Na trama do longa acompanhamos Anora (Mikey Madison), uma jovem profissional do sexo que trabalha nas noites do Brooklyn. Ela pode se tornar a Cinderela da sua própria história quando encontra e casa, por impulso, com Vanya (Mark Eydelshteyn) o filho de um oligarca russo. Mas quando a notícia chega à Rússia, seu conto de fadas fica ameaçado com a chegada dos pais dele a Nova York para cancelar o casamento.
Este é provavelmente o trabalho mais maduro de Baker, no sentido de ele estar em total controle de suas ações, cada plano, iluminação, fotografia, tudo é muito bonito de se ver e bem colocado em tela. Os tons vermelhos, por exemplo, que contrastam com o restante da paisagem mais fria, nos remetem ao desejo, tanto sexual, quanto o de simplesmente conseguir melhorar de vida e ser feliz.
Há também um ótimo equilíbrio entre os momentos mais dramáticos e de comédia. Em algum momento dos filme de Baker sempre acontece alguma cena de discussão ou briga primorosas, que são tão absurdas quanto engraçadas.
O longa tem uma divisão bem clara, do antes e depois que os pais de Vanya descobrem o casamento e mandam seus funcionários para tentar tomar alguma providência. São quase dois filmes diferentes, o tom muda, o sentimento de esperança e de que tudo pode valer a pena é substituído por uma tragicomédia com alguns desencontros e a aparência que em algum momento tudo vai desandar.
Madison é um achado. Em seu primeiro papel de destaque como protagonista ela toma conta da tela de maneira incrível. Por trás do véu da garota ousada que se vira sozinha e é acostumada com as ruas, existe muita sensibilidade e também vulnerabilidade, e ela transmite isso de forma muito orgânica. É impressionante que com apenas alguns detalhes a personagem é estabelecida com o seu emprego que a princípio parece algo totalmente deslocado de uma vida comum, mas ela no fundo é só mais uma assalariada que tem sua pausa pro cigarro, leva sua marmita e precisa cumprir escalas, e querendo ou não, fica deslumbrada com essa possibilidade de viver um conto de fadas.
Anora é uma joia muito bem lapidada por Baker, que consegue novamente fazer um filme que poderia cair num clichê, ter um final good vibes, mas assim como seus personagens que tem os pés no chão e aparentam ser bem reais, suas narrativas sempre acabam indo para um outro caminho, que muitas vezes nos deixam com um gosto agridoce na boca, o que é ótimo.
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