Ao começar a ler, Noites Brancas de Fiódor Dostoiévski, senti que me deparava com um homem do Romantismo: grande idealização do amor, sobretudo; além da perspectiva de que esse sentimento está acima de tudo, e a ele pertencemos. Não obstante, “Noites Brancas” é de puro lirismo, mostrando nosso personagem, o Sonhador, em poucos de seus diários devaneios ocasionados pela profunda solidão. Tendo esse pré-conceito em mente, passei a pensar que o personagem, solitário do jeito que se descrevia, autointitulava-se como “Sonhador” porque os sonhos eram escapismos, assim como visto durante o Romantismo – talvez fosse assim que fugisse da redoma que o isolava.
Teorias à parte, “Noites Brancas” se passa em julho, e isso já explica o título: é nesse mês em que o fenômeno das noites claras acontece em São Petersburgo. Dessa forma, acompanhamos o Sonhador durante quatro noites e uma manhã apenas (é um livro realmente curto). A princípio, percebemos um protagonista profundamente observador, o que o faz ser empático até mesmo com as casas das ruas em que caminha – há um momento em que sente o sofrimento de uma casa que acaba de ser pintada de amarelo canário.
Sua solidão é tamanha que São Petersburgo, por vezes, nos trás a impressão de também ser um personagem. Não só a cidade, como os demais habitantes que, mesmo sem de fato conhecerem o Sonhador, são seus amigos também – isso porque imaginava conversas e gesticulava para todos quando os encontrava.
E é entre suas andanças que conhecemos, junto a ele, o motivo de entretenimento para as noites que seguir-se-ão: uma jovem chorando. Recua, no primeiro momento, mas ao vê-la ser abordada por um senhor bêbado, atravessa a rua para ajudá-la. À partir de então entraremos em contato com quem realmente é Sonhador: suas decepções, seus pensamentos, suas neuras. Mais do que isso, seremos tão empáticos, ao final, quanto ele ao se colocar no lugar das casas reformadas.
Acredito que Dostoiévski, ao escrever uma história curta, mas carregada de lirismo, quis nos passar o verdadeiro significado da efemeridade do ato de amar. Por mais que tenhamos o livro inteiro para nos mostrar isso, em uma curta frase o autor russo nos bombardeia com a bondade de Sonhador: “Um momento inteiro de júbilo! Não será isto o bastante para uma vida inteira?…”
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