A novela russa “Primeiro amor”, do original “Pervaia Liubov”, tem como uma das principais características não a sua história, mas sim como é contada. Em uma roda de amigos, começa-se o papo acerca do primeiro amor dos ali envolvidos. Prometendo uma história da classe dos que nada têm de comum, Vladímir Petróvich escreve as páginas seguintes como sendo sua forma de contar aos amigos o que havia vivido aos dezesseis anos – um amor inesperado e dramático, de cunho quase que traumático.
Ambientada em Moscou, a trama se dá com a chegada de uma família aristocrática já sem o poderio econômico esperado para tal classe. Inesperadamente, nosso protagonista, o jovem Vladímir, conhece a filha da princesa da família, a princesinha Zinaida. A partir do primeiro encontro, o menino terá uma relação de afeto com Zinaida que recai na subjetividade romântica, exaltando a princesinha como em um livro do romantismo. Sua visão é ingênua, claramente afetada pela sensação da primeira vez ao sentir a grandiosidade que é o amor. Além da forma idealizada que Vladímir a descreve, deve-se lembrar que o ambiente bucólico, sempre retomando os aspectos da natureza, também estão ligados à escola literária do romantismo.
Além da narração central, focada no amor florescendo, há outro enfoque que, ao decorrer da história, também se tornará importante: a família de Vladímir. Seus pais são facilmente descritos, sendo a mãe uma senhora de pouca paciência, e o pai um homem isento de sentimentos, duro e conformista por preguiça. Em suas relações há grandes chaves para o desfecho da novela – principalmente quando focamos nos comentários e o mau humor da mãe.
Por mais que o final seja previsível, aqui está um ponto essencial: a nós soa claro, porém, para Vladímir, aos dezesseis anos e com pura ingenuidade, trata-se de uma surpresa avassaladora. E isso é algo incrível, pois então não se trata do que é contado no livro, e sim como é contado. Não será dito qualquer spoiler, mas Zinaida, com inúmeros homens a sua volta, em alguma hora haveria de escolher algum deles. O jovem passa parte da trama se questionando qual dos costumeiros homens, que a visitavam, teria ganhado seu coração: o poeta, ou o médico, ou o conde…
Ao final, consigo pensar na libertação dos personagens como a de Lucíola no romance de José de Alencar. O amor paira para aqueles que o merecem sentir, sentindo-o com seus pesares, benefícios e resquícios – e, por fim, a libertação chega para acabar com o sofrimento da falta, ou com a satisfação do equilíbrio, e, enfim, com o sufoco do excesso.